segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

300 ANOS DA IRMANDADE DO ROSÁRIO.


TRICENTENÁRIO DA IRMANDADE DO
ROSÁRIO DOS HOMENS PRETOS

A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, situada no Largo do Paissandú, centro da cidade de São Paulo, celebra o seu tricentenário neste dia 2 de janeiro de 2011.





A entidade foi criada para abrigar a religiosidade do povo negro, impedido de freqüentar as mesmas igrejas dos senhores, e resiste à urbanização, mantendo em seu calendário uma devoção secular a N. Sra. do Rosário. São realizadas procissões, novenas e rezas do terço, despertando o interesse dos que transitam pelas proximidades das avenidas São João, Ipiranga e Rio Branco.

A devoção a Nossa Senhora do Rosário tem sua origem entre os dominicanos sendo levada pelos portugueses ao Reino do Congo.

 

Irmandade dos Homens Pretos em São Paulo


A Irmandade teve a sua primeira igreja, construída em 1725 e depois ser demolida para dar lugar a atual Praça Antonio Prado, antigo Largo do Rosário em razão da Igreja que ficava exatamente onde hoje se localiza o gigantesco prédio do Banespa, durante o processo de modernização urbana da cidade de São Paulo.

Nos anos que se seguiram a sua fundação, os negros construiram um patrimônio ao redor da igreja, constituído de casas simples onde se desenvolviam atividades religiosas e também o acolhimento dos alforriados.

Na igreja de estilo colonial demolida e reconstruída no Paissandu, no subsolo fica a administração, um modesto refeitório onde habitualmente se serve um café para os membros da irmandade em meio a recordações, mantidas num acervo de pinturas, ilustrações, fotografias, imagens e documentos que trazem à lembrança os primeiros irmãos.



A Irmandade recebe pesquisadores, religiosos, pessoas de outras cidades, Estados e até do exterior, interessados em conhecê-la e estudar as razões de tanta longevidade e que ficam deslumbrados com o interior da igreja, que apresenta uma variedade de detalhes na pinturas das paredes, nas vestimentas e adornos dos santos, nas luzes do altar-mor que refletem entre lustres, candelabros e flores. "Só a devoção a Nossa Senhora foi capaz de manter-nos unidos, trazendo com a religiosidade, a conscientização capaz de forjar o surgimento de outros movimentos negros", esclarece a advogada e ex-deputada estadual, Theodosina Rosário Ribeiro, que já foi juíza, é mesária, e ainda faz parte da equipe litúrgica.


A festa de Nossa Senhora do Rosário conserva as tradições nas festas e posse dos irmãos e irmãs, quando os homens usam a opa, uma vestimenta sobre os ombros e as mulheres, fita azul sobre vestidos pretos ou brancos.

No primeiro domingo de outubro, quando é realizada a festa do Rosário, a igreja vive momentos de esplendor com missa solene, coroação de Nossa Senhora, almoço para a comunidade e irmandades visitantes.


Também nesse dia o povo sai em procissão pelas ruas do centro, cantando e acompanhando a banda de música, as crianças vestem-se de anjos, cumprindo as promessas dos pais, os irmãos e irmãs carregam os andores, o rei e a rainha as coroas, lembrança dos reisados e congadas.

O Registro da História


Existe também uma longa tradição de encontros e convivio familiar e fraternal que foi objeto de importante registro feito por Paulino Tarraf em dez vídeos de curta metragem, postados no Youtube que merecem ser vistos. Segue o link dos dois primeiros e a partir deles você encontrará os demais, assista-os e divulgue






 
Paissandu – espaço de resistência.


Com a instalação da Irmandade e da Igreja do Rosário, como é chamada na intimidade, no largo do Paissandu[1], o local se transformou num espaço de resistência da Comunidade Negra que fazia alí suas principais manifestações políticas, especialmente no dia 13 de maio, data em que se celebra a abolição da escravidão e agora tem se transformado em ponto de encontro para a Grandiosa Marcha do Dia da Consciência Negra comemorado no dia 20 de novembro.

No Paissandu, foi construída uma enorme estátua de bronze em homenagem a Mãe Preta, de autoria de Júlio Guerra, ali instalada em 1955.


A triste situação atual

Nos seu tricentenário a Irmandade do Rosário dos Homens Pretos tem pouco a comemorar e muito trabalho para ser feito para resgatar a sua importância na história do Povo Negro Paulista.

Sob intervenção judicial há alguns anos, a Irmandade praticamente não tem nenhuma ingerência na administração financeira e patrimonial da entidade.

A igreja e o seu entorno estão bastante deteriorados, percebe-se a infiltração no prédio e o Largo do Paissandu é zona freqüentada por prostitutas e onde estão instalados muitos moradores de rua e viciados em drogas. Todas essas pessoas merecem atenção das autoridades públicas para que o local possa ser novamente freqüentado por pessoas da Irmandade e para atração de novos integrantes.

Por se tratar do Ano Internacional para Afrodescendentes é oportuna a movimentação das organizações da comunidade negra, civis e governamentais, para uma ação de completa restauração dessa importante e histórica Irmandade.



[1] Paissandu é o nome de uma cidade uruguaia, situada ás margens do rio Uruguai. Foi palco, em 1864, de um cerco feito por forças brasileiras, durante a Guerra do Paraguai.

Um comentário:

  1. Oi Arruda,

    Gostaria de saber se pode me ajudar em um estudo que estou fazendo sobre a Irmandade do Rosário no Largo do Paiçandu em SP...
    Obrigada,
    Professora Eliana Angélica.
    PS-Posso colocar este blog no meu facebook?

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