segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Mulher de verdade.

LÉLIA – A INTELIGÊNCIA E A FORÇA DA MULHER NEGRA
  

Aqui captada na lente do artista da imagem Januário Garcia


Lélia Gonzalez, fantástitca mulher negra intelectual, nasceu em 1º de fevereiro de 1935 na cidade de Belo Horizonte.

Filha de um ferroviário negro e mãe de origem indígena empregada doméstica era penúltima de dezoito irmãos, vindo em 1942 para a cidade do Rio de Janeiro.

Graduada em História e em Filosofia, aprofundou estudos nas áreas da Antropologia, Sociologia, Literatura, Psicanálise, da teoria da estética,da Cultura Brasileira, além de ter-se dedicado profundamente à Ciência, Cultura e História africanas.

Professora de ensino médio no Colégio de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (UEG, atual UERJ), no perído da ditadura militar, fez de suas aulas de filosofia espaço de resistência e crítica político-social, marcando definitivamente o pensamento e a ação de seus alunos.

Seus escritos e palestras, atuando contra o racismo e outras formas de discriminação, contribuíram para a formação acadêmica e cidadã de muitos dos que com ela conviveram, considerando que atuou nas universidades brasileiras por mais de 30 anos, até seu falecimento.
Por reconhecimento de sua competência, foi eleita chefe do Departamento de Sociologia, da PUC/RIO

Como intelectual, Gonzalez elaborou pontos importantes para o desenvolvimento de um pensamento político negro e feminino/feminista. A sua formação nas ciências sociais, História e Filosofia lhe permitiu pensar a questão racial sob diversos aspectos, igualmente enriquecidos pelo seu envolvimento com o Candomblé e a Psicanálise. Foi com base nesta que Lélia abordou questões diferenciadas na compreensão da condição das mulheres negras na sociedade brasileira, aplicando conceitos de Freud e Lacan para avaliar aspectos presentes na cultura brasileira que são sintomáticos do racismo e do sexismo.

Um outro ponto de destaque no conjunto da sua obra foi a formulação da categoria da “amefricanidade”, que serviria para definir a experiência dos descendentes de africanos tanto no Brasil como em outra parte das Américas, destacando as elaborações culturais, como a linguagem, por exemplo.

Entre seus diversos escritos destacam-se os livros “Lugar de Negro”, Editora Marco Zero, 1982 (com Carlos Hasenbalg), “Festas Populares no Brasil”, premiado na Feira de Frankfurt. As demais referências da produção de Lélia Gonzalez são papers, comunicações, seminários, panfletos político-sociais, partidários, engajados, sempre de muita reflexão.

Lélia Gonzalez é fundadora  do Movimento Negro Unificado (MNU); do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras do Rio de Janeiro (IPCN-RJ)); do Nzinga Coletivo de Mulheres Negras; do Olodum e foi conselheira na primeira composição do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), de 1985 a 1989.

Lélia Gonzalez, morreu de problemas cardíacos aos 59 anos no dia 10 de julho de 1994.


quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Convenções do PSDB


Convenção é reconhecer, convergir para o mesmo ponto.

Convenção é uma palavra originária do verbo grego omologew (homologuêu) que significa estar de acordo, reconhecer; e do substantivo grego omologia (homologuía), que significa convênio, acordo, adesão, e também do latim “conventio”, do verbo convenire, que significa convir, ajustar-se, ficar de acordo com, designa a ação pela qual, muitos, de pontos diferentes, convergem para o mesmo ponto.
Num sentido mais amplo, o termo designa toda sorte de condutas aceitas pelo grupo como necessárias ou úteis ao bom funcionamento da vida em sociedade e é este sentido que literalmente o PSDB deve adotar neste momento.
No dia 17 de janeiro o Diretório Municipal de São Paulo em reunião da sua comissão Executiva definiu oficialmente quem pode participar como convencional nas convenções zonais de 13 de março de 2011, sendo respeitada a determinação estatutária de no mínimo seis meses de filiação.
O Diretório Municipal, de acordo a sua ata valorizou a qualidade de propostas e conteúdo de discussões politizadas como importante fator na ação política.
Como já me expressei em postagem anterior neste blog http://portaldoarruda.blogspot.com/2011/01/o-psdb-e-o-compromisso-com-os.html, baseado nos Programas do partido (da fundação e o da revisão de 2007), o PSDB tem o compromisso de incorporar a luta por igualdade efetiva de todos os que sofrem discriminação na sociedade, notadamente as mulheres, os negros, os índios e os idosos e certamente podemos agora acrescentar os que lutam pelo respeito à diversidade sexual; os deficientes e os nordestinos.
Lembro também que no 3º Congresso Nacional do PSDB em 2007 houve o reconhecimento de que temos dificuldade de comunicação com os segmentos historicamente discriminados.
Longe da pressão de qualquer eleição é este o momento de dar início concreto, verdadeiro, sem vacilação, no rompimento desse isolamento se quisermos construir uma sociedade democrática, igual e justa.
O período das convenções em todos os níveis que se aproxima é o momento de diálogo e de chamamento das lideranças políticas do partido para um concerto onde a participação de todos os segmentos seja o mote principal de oxigenação e reavivamento do PSDB junto aos setores populares.
A nós, pessoas envolvidas com cada um desses segmentos: deficientes, mulheres, negros, diversos sexuais, indígenas, idosos, nordestinos etc., cabe trabalhar a organização do seu grupo específico e, em conjunto, apresentarmos em cada zonal, um elenco de propostas de ação política e de inclusão de nossa participação em cada diretório.
É preciso desde já nos acautelar para as tentativas de formação do “Grupão dos Excluídos”, colocando todos num único “cercado” e tirar de lá um só nome que represente todos os segmentos. Inaceitável! Somos segmentos muito distintos, temos propostas e objetivos diferentes a serem alcançados, conquistas a serem consolidadas e representamos milhões de pessoas.
O que existe em comum entre nós é a permanente situação de exclusão nesses momentos de ocupação de espaços. Só somos lembrados e citados em determinados períodos. No resto a situação de invisibilidade é que nos torna iguais.
Cabe ao Partido da Social Democracia Brasileira conquistar a mesma legitimidade que tem os governantes eleitos pela legenda. O Partido precisa enfrentar e superar esse distanciamento o que só conseguirá com a participação democrática de todos os segmentos que compõem a sociedade brasileira nos espaços de decisão.
Arruda

 

sábado, 22 de janeiro de 2011

Rebelião dos Malês - a maior revolta urbana do Brasil Escravo.

Rebelião dos Muçulmanos Negros no Brasil.

Malês: escravos muçulmanos na cidade de Salvador.
A revolta dos Malês pode ser compreendida como um conflito que deflagrou oposição contra duas práticas comuns herdadas do sistema colonial  português:
(1) a escravidão e;
(2) a intolerância religiosa.
Os revoltosos, cerca de 1500, estavam muito insatisfeitos com a escravidão africana, a imposição do catolicismo e com a preconceito contra os negros. Portanto, tinham como objetivo principal à libertação dos escravos. Queriam também acabar com o catolicismo (religião imposta aos africanos desde o momento em que chegavam ao Brasil), o confisco dos bens dos brancos e mulatos e a implantação de uma república islâmica.
Comandada por negros de orientação religiosa islâmica, conhecidos como malês (o termo “malê” é de origem africana  (ioruba) e significa “o muçulmano”), essa revolta ainda foi resultado do desmando político e da miséria econômica do período regencial.
Com o deslocamento do eixo econômico-admininstrativo do Brasil para a região sudeste e as constantes crises da economia açucareira, a sociedade baiana do período tornou-se um sinônimo de atraso econômico e desigualdade socioeconômica. Além desses fatores, devemos também destacar que as prescrições religiosas incentivadas pelas autoridades locais promoveram a mobilização desse grupo étnico-religioso específico.
A Revolta dos Malês ocorreu na cidade de Salvador (província da Bahia) entre os dias 25 e 27 de janeiro de 1835 onde anos antes da revolta, as autoridades policiais tinham proibido qualquer tipo de manifestação religiosa.


Logo depois, a mesquita da “Vitória” – reduto dos negros muçulmanos – foi destruída e dois importantes chefes religiosos da região foram presos pelas autoridades.
Os negros islâmicos que exerciam atividades livres e eram conhecidos como negros de ganho (alfaiates, pequenos comerciantes, artesãos e carpinteiros). Apesar de livres, sofriam muita discriminação e perseguição[i] por serem negros e seguidores do islamismo.
Em função destas condições, encontravam muitas dificuldades para ascender socialmente.
No dia 25 de janeiro, festa religiosa de N. Sra. da Guia, comemorada pelos portugueses, uma festa religiosa na cidade Bonfim esvaziaria as ruas de Salvador dando melhores condições para a deflagração do movimento. Naquela mesma data, conforme a tradição local, os escravos ficariam livres da vigilância de seus senhores. Entre os ideais defendidos pelos maleses, damos destaque à questão da abolição da escravatura e o processo de africanização de Salvador por meio do extermínio de brancos e mulatos.
Mesmo prevendo todos os passos da rebelião, o movimento não conseguiu se instaurar conforme o planejado. A delação acionou um conflito entre as tropas imperiais e os negros malês. Sem contar com as mesmas condições das forças repressoras do Império, o movimento foi controlado e seus envolvidos punidos de forma diversa.

Apesar de não alcançar o triunfo esperado, a Revolta dos Malês abalou as elites baianas mediante a possibilidade de uma revolta geral dos escravos.
Por Rainer Sousa Graduado em História  - Equipe Brasil Escola




[i] A perseguição religiosa, que constitui um caso extremo de intolerância, consiste no maltrato persistente que um grupo dirige a outro grupo ou a um individuo devido à sua afiliação religiosa. Usualmente, a perseguição desta natureza floresce devido à ausência de tolerância religiosa, liberdade de religião e pluralismo religioso.
Perseguição, neste contexto, pode referir-se a prisões ilegais, espancamentos, torturas, execução injustificada, negação de benefícios e de direitos e liberdades civis. Pode também implicar em confisco de bens e destruição de propriedades, ou incitamento ao ódio, entre outras coisas.
As religiões de matrizes africanas foram criminalizados durante longo período da história e até hoje continuam sendo perseguidas.
O Dia Contra a Intolerância Religiosa é celebrado em 22 de janeiro.


segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Martin Luther King


O DIA DE MARTIN LUTHER KING.

Hoje é feriado nacional nos Estados Unidos da América em homenagem a Martin Luther King Jr, que é celebrado, desde 1986 toda a terceira segunda-feira de janeiro.

Martin Luther King Jr. nasceu em Atlanta no dia 15 de janeiro de 1929 foi um pastor protestante e influente ativista político pelos direitos civis dos negros
Em 1955 uma mulher negra, empregada doméstica chamada Rosa Parks, se negou a dar seu lugar em um ônibus para uma mulher branca e foi presa.
Os negros da cidade de Montgomery, estado doAlabama, onde isto ocorreu, liderados pelo jovem pastor Luther King Jr; organizaram um boicote onde os negros, grande maioria da população, não mais tomariam ônibus.

Durante a campanha de 381 dias, muitas ameaças foram feitas contra a sua vida, foi preso e viu sua casa ser atacada. O boicote foi encerrado com a decisão da Suprema Corte Americana em tornar ilegal a discriminação racial em transporte público.

King organizou e liderou marchas a fim de conseguir o direito ao voto, o fim da segregação, o fim das discriminações no trabalho e outros direitos civis básicos. A maior parte destes direitos foram incorporadas a da Lei de Direitos Civis de 1964 e a Lei de Direitos Eleitorais de 1965.

Ato de assinatura dos direitos civis pelo Presidente dos Estados Unidos Lindon Johson em 2 de julho 1964

Martin Luther King era odiado por muitos segregacionista, o que culminou em seu assassinato no dia 4 de abril de 1968 num hotal na cidade de Menphis.

Em outubro de 1964 King se tornou a pessoa mais jovem a receber o Prêmio Nobel da Paz , que lhe foi outorgado em reconhecimento a sua açao e à sua liderança na resistência não-violenta e pelo fim do racismo nos Estados Unidos.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O PSDB e o compromisso com os discriminados.

O PSDB na construção de uma sociedade democrática
precisa abrir espaço para os discriminados.
Entre alguns comentários e reflexões que surgem atualmente sobre o futuro do PSDB, visitei os dois documentos fundamentais do partido para relembrar como vem sendo tratada programaticamente pelo Partido a questão dos negros e outros segmentos historicamente excluídos.
O tema da desigualdade por raça e de outras formas de discriminação é destacado tanto no Programa de Fundação do Partido, publicado no Diário Oficial de 6 de julho de 1988, como no último Programa Partidário aprovado no III Congresso Nacional do PSDB em 23 de novembro de 2007.
No documento fundacional o PSDB afirma: A democracia moderna é participativa e pluralista. Envolve a participação crescente do povo nas decisões políticas e na formação dos atos de governo. Respeita o pluralismo de idéias, culturas e etnias. Pressupõe, assim, o diálogo entre opiniões e pensamentos divergentes e a possibilidade de convivência de formas de organização e interesses diferentes na sociedade. Exclui os sectarismos e a violência política a qualquer título.
Adiante o programa realça o compromisso com os segmentos discriminados assim enfatizando:
Outra dimensão essencial da concepção democrática do PSDB é seu conteúdo social: o modo democrático de convivência não condiz com a manutenção de desigualdades sociais profundas, nem depende apenas do reconhecimento formal de certo número de direitos individuais, políticos e sociais. Ele reclama a vigência de condições econômicas que possibilitem o pleno exercício desses direitos. Por isto o PSDB lutará pela transformação das estruturas econômicas e sociais brasileiras e haverá de incorporar a luta por igualdade efetiva de todos os que sofrem discriminação na sociedade, notadamente as mulheres, os negros, os índios e os idosos.
O negrito é proposital para que possamos incluir, com seriedade e sem tergiversação na atual reflexão sobre o PSDB, os motivos pelos quais, tantos anos depois e em meio a tantas mudanças que significaram conquistas importantes para o povo brasileiro, as questões dos discriminados: mulheres, negros, indígenas, jovens, diversos sexuais, tem avançado tão timidamente nos governos do PSDB e praticamente desapareceram das discussões e ações do Partido.
O segundo documento visitado é o publicado como resultado do 3º Congresso Nacional do Partido que admite o distanciamento e assim se expressa em relação ao assunto:
A grande novidade política do Brasil nestes vinte anos é a entrada em cena de um personagem: o cidadão informado. Este não quer soluções apenas. Quer participação.

Por convictos que estejamos da pertinência das nossas propostas, devemos reconhecer que a interlocução do PSDB com a sociedade ficou aquém do que propunham nossos fundadores e do que se mostra necessário.

Nossos canais de diálogo com diferentes setores da sociedade e com os cidadãos em geral são injustificadamente estreitos. Temas que afetam intensamente o cotidiano das pessoas e animam movimentos sociais, como as questões de gênero e raça, drogas e violência, os direitos das minorias, repercutem pouco dentro do nosso partido.

Ficamos desatentos à riqueza de manifestações culturais do povo brasileiro, com sua imensa capacidade de afirmar valores e identidades e gerar coesão social.

Que atenção demos, por exemplo, aos movimentos (sobretudo musicais) dos jovens na periferia das grandes cidades?

Ora companheiras e companheiros, não basta a constatação de que o Partido tem faltado na sua ação política com esses setores da sociedade. Quatro anos passados e duas eleições depois daquele  3º Congresso, sem que estes segmentos tivessem tido a oportunidade de participar organizadamente, de serem ouvidos em momentos cruciais pelos quais o PSDB passou, nada mudou. Neste momento em que realizaremos as convenções do partido em todas as suas instâncias, impõe-se a necessidade e a obrigação democrática de incentivar a organização para que se façam ouvir e inserir na ação política do PSDB, todos os que estão historicamente discriminados.
A social-democracia é a forma de pensar e agir politicamente, na construção de uma sociedade igualitária, que possibilite a existência de um Estado que faça a regulação e o desenvolvimento de políticas públicas que eliminem as injustiças históricas do capitalismo.

Vamos agir para que o PSDB cumpra plenamente o seu dever histórico.
  Arruda

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Teodoro Sampaio

Teodoro Sampaio
Engenheiro, geógrafo, historiador e escritor

Teodoro Fernandes Sampaio nasceu em 7 de janeiro de 1855 no Engenho Canabrava, então Santo Amaro da Purificação,  hoje localizado no município baiano de Teodoro Sampaio era filho da escrava Domingas da Paixão do Carmo e do padre Manuel Fernandes Sampaio, por quem foi trazido para São Paulo para prosseguir os estudos e depois para o Rio de Janeiro onde ingressou no curso de Engenharia do Colégio Central.

Ao tempo em que estudava lecionava nos Colégios São Salvador e Abílio, além de ser desenhista do Museu Nacional.

Formou-se em 1877 e voltou para a Bahia onde revê a mãe e os irmãos. Logo depois compra a carta de alforria de seus irmãos Martinho, Ezequiel e Matias. Por ser filho de branco, Sampaio nunca fora escravo.

Em 1879 integra a "Comissão Hidráulica", nomeada pelo imperador Dom Pedro II, sendo o único engenheiro brasileiro entre norte-americanos.

Obras na engenharia
A convite de Orville Derby (Orville Adalbert Derby foi um geólogo e geógrafo americano naturalizado brasileiro), que conhecera numa expedição aos sertões sanfranciscanos, participa de nova comissão que realiza o levantamento geológico do Estado de São Paulo em 1886.

Antes havia realizado o trabalho de prolongamento da linha férrea de Salvador ao São Francisco(1882).

No ano seguinte é nomeado engenheiro chefe da Comissão de Desobstrução do Rio São Francisco, que deixa em virtude do convite de Derby para trabalhar em São Paulo.

Em São Paulo, dentre outra realizações, participa em 1890 como engenheiro chefe da Companhia Cantareira, linha férrea muito importante e conhecida populamente através da música Trem das Onze.

Em 1898 é nomeado Diretor e Engenheiro Chefe do Saneamento do Estado de São Paulo, cargo que ocupou até 1903.

Participou da fundação da Escola Politécnica da USP,  junto com Francisco de Salles Oliveira e com o Coronel Jardim.

A visão científica
Com sua visão de cientista social em 1894 foi um dos funcadores do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e depois dos congêneres da Bahia e Brasileiro.
Em 1912  presidiu o V Congresso Brasileiro de Geografia.

Importância de Teodoro Sampaio


Teodoro Sampaio, que nasceu negro e filho de escrava, foi um dos maiores pensadores brasileiros de seu tempo. Engenheiro por profissão legou-nos uma bibliografia de vasta erudição geográfica e histórica sobre a contribuição das bandeiras paulistas à formação do território nacional, entre outros temas. É formidável sua sofisticação na percepção da importância dos saberes indígenas (caminhos, mas não só) na odisséia bandeirante. Igualmente digna de consideração foi sua contribuição ao estudo de vários rios brasileiros, de pinturas rupestres em sítios arqueológicos nacionais, do tupi na geografia brasileira e da geologia no País. Neste campo, a geologia brasileira, participou de momentos marcantes, como a expedição de Orville Derby ao vale do rio São Francisco e de comissões específicas. Além disso, foi grande amigo de Euclides da Cunha, e auxiliou o escritor com conhecimentos sobre o sertão baiano na elaboração de Os Sertões.

Seu nome figura na memória intelectual do País ao lado de Capistrano de Abreu, Joaquim Nabuco e outros do mesmo patamar. Em sua memória, foram batizados dois municípios brasileiros (na Bahia e em São Paulo) e também uma importante rua da cidade de São Paulo.

Principais obras
• O rio São Francisco e a chapada Diamantina (1906)
• O tupi na geografia nacional (1901),
• Atlas dos Estados Unidos do Brasil (1908)
• Dicionário histórico, geográfico e etnográfico do Brasil (1922)
• História da Fundação da Cidade do Salvador (póstumo).

Os diários de Teodoro Sampaio
Os diários de Teodoro Sampaio (1855- 1937) estão arquivados no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB).

Há, inclusive, em meio a estes diários, uma carta de sua autoria, emocionante, direcionada a um senhor de escravos. Theodoro diz que como está prestes a se casar e, portanto, "montando casa", não tem todo o dinheiro estipulado para a compra. O escravo em questão é seu irmão. Ele queria cumprir uma promessa feita à mãe.

Não se sabe se o proprietário de escravos fez "a caridade pela liberdade", como pede Theodoro. Mas em um outro trecho está anexada a carta de alforria de um outro irmão seu.

Engenheiro, Theodoro Sampaio foi também historiador e geógrafo. Hoje dá nome a uma via em São Paulo, com reverências por lá maiores do que as que recebe em seu Estado de origem, a Bahia, de forma tal que há quem pense que ele é paulista.

Mas Theodoro nasceu em Santo Amaro da Purificação . É certo que hoje existe um município baiano e um paulista que levam o seu nome.

Teodoro Sampaio escreveu trabalhos como O Rio São Francisco e Chapada Diamantina; e Viajantes Estrangeiros no Brasil. Não é segredo que Euclides da Cunha utilizou várias das informações geográficas coletadas por ele em Os Sertões, mas não lhe deu o crédito merecido. Fez apenas uma pequena observação sobre a contribuição em uma das edições do seu livro que virou clássico. Conta-se que Teodoro, que dirigiu o IGHB de 1922 a 1937, ficou magoado com o amigo, mas engoliu a omissão de forma discreta.

Não tão discreto ele foi em relação a um episódio de racismo explícito. Convocado para integrar a Comissão Hidráulica do governo brasileiro, que faria um estudo dos portos e das condições de navegalibidade do interior do país, foi o único do grupo a não ter seu nome divulgado no edital de convocação.

Ao ser apurado o episódio, a justificativa do funcionário de gabinete foi a seguinte: "Poderia causar constrangimento aos outros estar ao lado de um homem de cor". A comissão era coordenada por um engenheiro americano: William Milnor Roberts. A omissão foi reparada, mas a agressão a Teodoro já estava feita.
Para saber mais
O Rio São Francisco e a Chapada Diamantina, Teodoro Sampaio (José Carlos Barreto de Santana org.), Companhia das Letras, São Paulo, 2002. {ISBN 85-359-0256-2)
Theodoro Sampaio e a Chapada Diamantina (Trechos da expedição de 1879/1880), Otoniel Fernandes Neto, ed. do Autor, Brasília, 2005. (ISBN 85-905834-1-4).
Baianos Ilustres, Antônio Loureiro de Souza, Salvador, 1949.
Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Teodoro_Fernandes_Sampaio"
Categorias: Baianos de Santo Amaro | Engenheiros do Brasil | Geógrafos do Brasil | Historiadores do Brasil | Afro-brasileiros.
Pesquisa de textos e imagem: Carlos Eugênio Marcondes de Moura

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

JULIANO MOREIRA - O PAI DA PSIQUIATRIA




Prof. Dr. JULIANO MOREIRA


(médico psiquiatra ) 1873 - 1933
Nascido em Salvador 6 de janeiro de 1873 ficou conhecido e respeitado por suas inovações, no tratamento dos doentes mentais no Brasil e também designado como o fundador da disciplina psiquiátrica no Brasil.

Formado na Faculdade de Medicina da Bahia, formando-se antes da Abolição e já era professor desta instituição em 1891.


Já em 1900 representa o Brasil em congressos internacionais: em Paris, neste ano - sendo também eleito Presidente Honorário do 4º Congresso Internacional de assistência a alienados, em Berlim; também foi congressista brasileiro em Lisboa, em 1906; Milão e Amsterdam, em 1907; Londres e Bruxelas, em 1913.

Aperfeiçoou-se na Europa, onde freqüentou cursos de doenças mentais e de anatomia patológica.

Em 1902 foi nomeado diretor do Hospital Nacional de Alienados no Rio de Janeiro, onde desenvolveu uma administração marcante.

Reformou e ampliou a instituição e obteve a promulgação da primeira lei brasileira de assistência aos loucos (1902-1930).

Batalhador em prol dos doentes mentais foi um dos responsáveis pela lei de assistência aos alienados (1904). Foi também Diretor Geral de Assistência a Alienados (1911-1930), criou o manicômio judiciário, adquiriu o terreno para construção do atual Hospital-Colônia Juliano Moreira e fundou a nova colônia para mulheres dementes.





Imagens da Colônia Juliano Moreira em Jacarepaguá que está sendo restaurada pelo Governo do Rio de Janeiro

Tendo conhecido  os Serviços de Psiquiatria da Alemanha, abraça as idéias de Griesinger, o “organizador da Psiquiatria na Alemanha”. Conhece Emil Kraepelin e com ele estagia no Instituto de Munique. É este modelo que procura implantar no Hospício Nacional dos Alienados.

Consegue humanizar o tratamento dado aos doentes através da abolição da camisa de força e das grades de ferro, até então comuns nas casas de saúde mental no Brasil. Com isso, inspirou a adoção dos mesmos métodos de tratamento no Hospício Juqueri em São Paulo. Foi um bravo opositor das teorias que atribuíam a degeneração do povo brasileiro à miscigenação racial. Durante a maior parte de sua vida representa o país em vários congressos de psiquiatria e divulga as idéias de Freud no Brasil. http://spsaude.blogspot.com/2009/11/voce-sabe-quem-foi-juliano-moreira.html

A preocupação com os princípios da ciência transformou Juliano num grande chefe de Escola Médica. Sob seu comando trabalharam médicos como Miguel Couto, Fernandes Figueira, Antonio Austregésilo, Leitão da Cunha e Afrânio Peixoto, entre outros. Um dos pontos fundamentais da proposta de Juliano Moreira para a reorganização do atendimento aos doentes mentais relaciona-se à necessidade de instituições abertas, mantendo as recomendações de atenção e vigilância aos pacientes, lembrando instituições européias que adotaram essas práticas com excelentes resultados. http://www.aperjrio.org.br/publicacoes/revista/2004/juliano.asp

Instalou um laboratório de análises, a partir do qual iniciou-se, no Brasil, a rotina de punções lombares para elucidação de diagnóstico.

Professor de neurologia e psiquiatria e pesquisador de doenças tropicais deixou importantes trabalhos sobre o ainhum, a bouba, a leishmaniose e a lepra.

É autor dos livros Assistência aos alienados no Brasil (1906) e A evolução da medicina no Brasil (1908).

 

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

300 ANOS DA IRMANDADE DO ROSÁRIO.


TRICENTENÁRIO DA IRMANDADE DO
ROSÁRIO DOS HOMENS PRETOS

A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, situada no Largo do Paissandú, centro da cidade de São Paulo, celebra o seu tricentenário neste dia 2 de janeiro de 2011.





A entidade foi criada para abrigar a religiosidade do povo negro, impedido de freqüentar as mesmas igrejas dos senhores, e resiste à urbanização, mantendo em seu calendário uma devoção secular a N. Sra. do Rosário. São realizadas procissões, novenas e rezas do terço, despertando o interesse dos que transitam pelas proximidades das avenidas São João, Ipiranga e Rio Branco.

A devoção a Nossa Senhora do Rosário tem sua origem entre os dominicanos sendo levada pelos portugueses ao Reino do Congo.

 

Irmandade dos Homens Pretos em São Paulo


A Irmandade teve a sua primeira igreja, construída em 1725 e depois ser demolida para dar lugar a atual Praça Antonio Prado, antigo Largo do Rosário em razão da Igreja que ficava exatamente onde hoje se localiza o gigantesco prédio do Banespa, durante o processo de modernização urbana da cidade de São Paulo.

Nos anos que se seguiram a sua fundação, os negros construiram um patrimônio ao redor da igreja, constituído de casas simples onde se desenvolviam atividades religiosas e também o acolhimento dos alforriados.

Na igreja de estilo colonial demolida e reconstruída no Paissandu, no subsolo fica a administração, um modesto refeitório onde habitualmente se serve um café para os membros da irmandade em meio a recordações, mantidas num acervo de pinturas, ilustrações, fotografias, imagens e documentos que trazem à lembrança os primeiros irmãos.



A Irmandade recebe pesquisadores, religiosos, pessoas de outras cidades, Estados e até do exterior, interessados em conhecê-la e estudar as razões de tanta longevidade e que ficam deslumbrados com o interior da igreja, que apresenta uma variedade de detalhes na pinturas das paredes, nas vestimentas e adornos dos santos, nas luzes do altar-mor que refletem entre lustres, candelabros e flores. "Só a devoção a Nossa Senhora foi capaz de manter-nos unidos, trazendo com a religiosidade, a conscientização capaz de forjar o surgimento de outros movimentos negros", esclarece a advogada e ex-deputada estadual, Theodosina Rosário Ribeiro, que já foi juíza, é mesária, e ainda faz parte da equipe litúrgica.


A festa de Nossa Senhora do Rosário conserva as tradições nas festas e posse dos irmãos e irmãs, quando os homens usam a opa, uma vestimenta sobre os ombros e as mulheres, fita azul sobre vestidos pretos ou brancos.

No primeiro domingo de outubro, quando é realizada a festa do Rosário, a igreja vive momentos de esplendor com missa solene, coroação de Nossa Senhora, almoço para a comunidade e irmandades visitantes.


Também nesse dia o povo sai em procissão pelas ruas do centro, cantando e acompanhando a banda de música, as crianças vestem-se de anjos, cumprindo as promessas dos pais, os irmãos e irmãs carregam os andores, o rei e a rainha as coroas, lembrança dos reisados e congadas.

O Registro da História


Existe também uma longa tradição de encontros e convivio familiar e fraternal que foi objeto de importante registro feito por Paulino Tarraf em dez vídeos de curta metragem, postados no Youtube que merecem ser vistos. Segue o link dos dois primeiros e a partir deles você encontrará os demais, assista-os e divulgue






 
Paissandu – espaço de resistência.


Com a instalação da Irmandade e da Igreja do Rosário, como é chamada na intimidade, no largo do Paissandu[1], o local se transformou num espaço de resistência da Comunidade Negra que fazia alí suas principais manifestações políticas, especialmente no dia 13 de maio, data em que se celebra a abolição da escravidão e agora tem se transformado em ponto de encontro para a Grandiosa Marcha do Dia da Consciência Negra comemorado no dia 20 de novembro.

No Paissandu, foi construída uma enorme estátua de bronze em homenagem a Mãe Preta, de autoria de Júlio Guerra, ali instalada em 1955.


A triste situação atual

Nos seu tricentenário a Irmandade do Rosário dos Homens Pretos tem pouco a comemorar e muito trabalho para ser feito para resgatar a sua importância na história do Povo Negro Paulista.

Sob intervenção judicial há alguns anos, a Irmandade praticamente não tem nenhuma ingerência na administração financeira e patrimonial da entidade.

A igreja e o seu entorno estão bastante deteriorados, percebe-se a infiltração no prédio e o Largo do Paissandu é zona freqüentada por prostitutas e onde estão instalados muitos moradores de rua e viciados em drogas. Todas essas pessoas merecem atenção das autoridades públicas para que o local possa ser novamente freqüentado por pessoas da Irmandade e para atração de novos integrantes.

Por se tratar do Ano Internacional para Afrodescendentes é oportuna a movimentação das organizações da comunidade negra, civis e governamentais, para uma ação de completa restauração dessa importante e histórica Irmandade.



[1] Paissandu é o nome de uma cidade uruguaia, situada ás margens do rio Uruguai. Foi palco, em 1864, de um cerco feito por forças brasileiras, durante a Guerra do Paraguai.