terça-feira, 26 de junho de 2012


QUINTINO DE LACERDA

Líder do Jabaquara – o 1º Quilombo de Sucesso no Litoral Paulista.



Chefe do Quilombo do Jabaquara e primeiro líder político negro de Santos. Nascido em 8 de junho de 1839, Quintino de Lacerda, foi o mais atuante agitador da abolição no litoral Paulista, garantindo abrigo a escravos fugitivos de toda a região do planalto, que aqui buscavam defesa.

O Quilombo do Jabaquara, na descrição de Silva Jardim, era verdadeiramente inexpugnável, defendido pelas encosta do morro do Jabaquara e com um único caminho de acesso permanentemente guardados pôr sentinelas de Quintino.

Em 1850 haviam 3.189 escravos em Santos, para uma população livre de 3.956 habitantes.

Não deixa de ser surpreendente que quinze anos depois já existia uma forte resistência organizada e que três meses antes da abolição do instituto da escravidão no Brasil, em Santos já não houvesse escravos. Tanto que dia 13 de maio de 1888 seguiram-se oito dias de festa populares, comícios, passeatas músicas e dança nas ruas.

Quintino de Lacerda, foi o centro das atenções e chegou a receber, em solenidade pública, um relógio de ouro, como um homenagem popular a seu mais querido líder abolicionista.

Com a abolição, o irrequieto Quintino lança-se à luta política, incorporando, pela primeira vez, os negros ao processo político na cidade. Organiza e comanda um batalhão na defesa contra uma possível invasão de tropas rebeldes interessadas em depor o Marechal Floriano Peixoto. Recebe, em reconhecimento, o título de Major Honorário da Guarda Nacional, em 1893.

Sua eleição para a Câmara municipal, em 1895, porém, faz eclodir uma grande crise política fomentada pêlos setores racista. Ela começa com a negação de sua posse como vereador.

A batalha judicial que se segue, chega aos tribunais paulistanos, e termina com a vitória de Quintino. Prevendo o desfecho em favor do líder negro, o presidente da Câmara, Manoel Maria Tourinho, renunciou ao mandato, seguido pelo vereador Alberto Veiga. O novo presidente José André do Sacramento Macuco, foi obrigado a empossar Quintino, mas renunciou também ao mandato, em seguida, declarando-se "enojado com o que via", segundo Francisco Martins dos Santos("Histórias de Santos").

Registra o mesmo Historiador que apenas um dos inimigos de Quintino permaneceu na Câmara, embora passasse a não mais comparecer às sessões, Olímpio Lima, diretor do jornal "A Tribuna do Povo".

As atividades da Câmara foram suspensas até 1º de junho, quando voltou a funcionar, sob a presidência interina do próprio Quintino.

No dia 9, os cargos vagos são preenchidos e, a 16, com base na Lei Eleitoral e devido às ausências em plenário, Quintino propõe e obtém, pôr unanimidade, a cassação de Olímpio Lima. O Jornalista, inconformado, voltou à Câmara a 12 de julho, tão logo foi empossado o novo presidente, Antônio Vieira de Figueiredo, mas foi solicitado a retirar-se, já que seu mandato fora cassado. Lima iniciou uma série violenta de ataques contra Quintino em seu jornal, e à própria Câmara, num processo que culminaria, pôr fim, com a revogação da Constituição Municipal autônoma , que fora em 15 de novembro de 1894 e durou menos de um ano.

Quintino de Lacerda morreu em 10 de agosto de 1898, deixando três filhos menores. Seu enterro foi acompanhado pôr um grande número de pessoas, um testemunho do reconhecimento de sua importância histórica.

Foi mandado erguer na cidade de Santos, monumentos ao Coronel Quintino de Lacerda, patente outorgada pelo então Presidente, Marechal Deodoro da Fonseca ao menino escravo dos engenhos de Sergipe, em Itabaiana.

Seu nome também foi lembrado em sua terra, onde denominaram uma artéria publica com seu nome no centro da cidade (Rua Quintino de Lacerda) e reconheceram-no pelo seu legislativo municipal, como Herói Negro de Itabaiana, considerando o 8 de Junho como o Dia Municipal de Luta da Consciência Negra em sua homenagem gravado em 20 de setembro de 2001.

 Jabaquara - Santos

Menos conhecido do que o bairro que leva o mesmo nome na cidade de São Paulo, Jabaquara morro que deu nome ao quilombo é um bairro localizado na cidade de Santos, estado de São Paulo, no Brasil.

No século XIX, a área era conhecida como Sítio Jabaquara, e abrigava um grande quilombo que fugiam do interior de São Paulo para aquele local em busca de melhores condições de vida, que desciam a Serra do Mar a pé, no maior quilombo brasileiro.

Hoje, constitui-se de um bairro predominantemente residencial, mas abriga um dos maiores e mais antigos hospitais do país, a Santa Casa de Misericórdia de Santos, além de abrigar o Centro de Treinamento do Santos Futebol Clube e o estádio Ulrico Mursa, da Portuguesa Santista.

O bairro já abrigou o Jabaquara Atlético Clube, que levou o nome do bairro em conseqüência de sua origem e que forneceu diversos craques ao futebol brasileiro.

Fontes:

http://jornalnago.blogspot.com.br/2008/06/quintino-de-lacerda-heroi-negro-de.html 


sábado, 2 de junho de 2012


TOBIAS BARRETO


 
O negro sergipano que falava alemão era feminista e abolicionista.


Tobias Barreto de Meneses (Vila de Campos do Rio Real, 7 de junho de 1839 — Sergipe, 26 de junho de 1889) mestiço, pobre, nasceu na vila de Campos do Rio Real que passou a se chamar Tobias Barreto em sua homenagem, província de Sergipe em 7 de junho de 1839, e faleceu em Recife, Pernambuco em 26 de junho de 1889.

Bacharel em direito pela Faculdade do Recife, foi jornalista, advogado e deputado provincial. Destacou-se no campo da filosofia por sua atuação polêmica contra o conformismo retórico. Questionou a concepção de física social do positivismo, relacionou o conceito de cultura à constituição de normas para a compreensão do social e do humano. Entendia a metafísica como teoria do conhecimento divergindo profundamente do positivismo. Admitia a liberdade humana como realidade não empírica. Defendeu o liberalismo na política, a emancipação feminina e a libertação dos escravos. Foi uma figura central na Escola do Recife, disseminando o pensamento filosófico alemão no Brasil que, naquela época, sofria forte influência da cultura francesa. Certamente, foi um importante pensador brasileiro no século XIX.

Filósofo, poeta, crítico e importante jurista foi também fervoroso integrante da Escola do Recife, um movimento filosófico de grande força calcado no monismo e evolucionismo europeu, Tobias Barreto foi o fundador do condoreirismo brasileiro.

O Condoreirismo ou condorismo é uma parte de uma escola literária da poesia brasileira, a terceira fase romântica, marcada pela temática social e a defesa de idéias igualitárias.
Uma poesia social, comprometidos com a causa abolicionista e republicana. Em geral são poemas de tom grandiloqüente, próximos da oratória, cuja finalidade é convencer o leitor-ouvinte e conquistá-lo para a causa defendida.
O nome da corrente, condoreirismo, associa-se ao condor ave de vôo alto e solitário, com capacidade de enxergar a grande distância, os poetas condoreiros supunham serem eles também dotados dessa capacidade e, por isso, tinham o compromisso, como poetas-gênios iluminados por Deus, de orientar os homens comuns para os caminhos da justiça e da liberdade.

Sua temática, contudo, além de questionar a estrutura escravista do regime monárquico em vigência, opondo-lhe a República e a Abolição, procede a uma reflexão filosófica profunda acerca da Divindade dogmática como instituição mantenedora das desigualdades sociais, e conivente com a exploração do homem pelo homem:
Se é Deus quem deixa o mundo
Sob o peso que o oprime,
Se ele consente esse crime,
Que se chama escravidão,
Para fazer homens livres,
Para arrancá-los do abismo,
Existe um patriotismo
Maior que a religião.

Encontramos um eu-lírico céptico e questionador de todos os dogmas religiosos que não se furta a apontar as falhas Divinas:
                            (...)
                            Nesta hora a mocidade
                            Corrige o erro de Deus.

Postura que se mostra muito mais eloqüente e incisiva em Ignorabimus :

Quanta ilusão!... O céu mostra-se esquivo
E surdo ao brado do universo inteiro...
De dúvidas cruéis prisioneiro,
Tomba por terra o pensamento altivo.

Dizem que o Cristo, o filho do Deus vivo,
A quem chamam também Deus verdadeiro,
Veio o mundo remir do cativeiro,
E eu vejo o mundo ainda tão cativo!

Se os reis são sempre os reis, se o povo ignavo
Não deixou de provar o duro freio
Da tirania, e da miséria o travo,

Se é sempre o mesmo engodo e falso enleio,
Se o homem chora e continua escravo,
De que foi que Jesus salvar-nos veio?...

Dedicou vários anos a aprofundar-se no estudo do alemão, para poder ler no original alguns dos ensaístas germânicos, à frente deles Ernest Haeckel e Ludwig Büchner". Conta Hermes Lima, em sua magnífica biografia de Tobias, que ele "para irritar o burguês, com uma nota mais ostensiva de superioridade, abria freqüentemente seu luminoso leque de pavão: o germanismo". Foi em alemão que Tobias redigiu o "Deutscher Kampfer" (O lutador alemão). Mais tarde sairiam de sua pena os "Estudos Alemães".

A obra de Tobias é de significativo valor, levando em conta que o professor sergipano não chegou a conhecer a capital do Império.

Suas "Obras Completas", editadas pelo Instituto Nacional do Livro, incluem os seguintes títulos: "Ensaios e Estudos de Filosofia e Crítica", 1875. "Brasilien, wie es ist", 1876. "Ensaio de pré-história da literatura alemã". "Filosofia e Crítica". "Estudos Alemães", 1879. "Dias e Noites", 1881. "Polêmicas", 1901. "Discursos", 1887. "Menores e Loucos", 1884.

Hoje, em sua homenagem, a Faculdade de Direito do Recife é carinhosamente chamada de "A Casa de Tobias".