OLIVEIRA SILVEIRA
O "CRIADOR" DO 20 DE NOVEMBRO
Oliveira
Ferreira Silveira nasceu em Rosário do Sul – RGS formou-se em Letras (Português
e Francês) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, pesquisador,
historiador, poeta, e um dos idealizadores da transformação do 20 de Novembro,
no Dia da Consciência Negra a data máxima do povo negro brasileiro.
Com
seu espírito científico Oliveira Silveira mergulhou em uma pesquisa profunda e
detalhada sobre a história do negro no Brasil e se deparou com a história do
Quilombo dos Palmares e de seu Líder “Zumbi do Palmares”.
Entrevista de Oliveira Silveira
para a Agência Brasil conta bem essa história:
Agência
Brasil: Por que o movimento negro
gaúcho resolveu buscar uma nova data para reverenciar a luta dos negros contra
o regime escravagista, em substituição ao 13 de maio?
Oliveira
Silveira: Isso ocorreu em 1971. Estávamos insatisfeitos com o 13 de maio. Havia
um grupo de negros que se reunia na Rua da Praia [no centro de Porto Alegre] e
o nosso assunto, invariavelmente, era a questão negra e o fato de o 13 de maio
não ter maior significação para nós. Logo, surgiu a idéia de que era preciso
encontrar outra data. Eu, como gostava de pesquisar, aprofundei-me nisso. E
encontrei material, cuja fonte era Édison Carneiro, autor do livro O Quilombo
dos Palmares, indicando que Zumbi dos Palmares havia sido morto em 20 de
novembro [de 1695]. Essa informação foi confirmada no livro As guerras dos
Palmares, do português Ernesto Ennes, no qual foram transcritos documentos. Já
que não sabíamos o dia de seu nascimento ou do início de Palmares, tínhamos
pelo menos a data da morte de Zumbi, o último rei do quilombo de Palmares,
Alagoas. Então, promovemos uma reunião, que originou o Grupo Cultural Palmares,
cuja idéia era fazer um trabalho para reverenciar Palmares e Zumbi como algo
mais representativo que 13 de maio.
ABr:
Quando foi realizado o
primeiro ato para reverenciar Zumbi e Palmares?
Oliveira:
Como o Grupo Palmares havia se disposto a trabalhar a partir de datas e já
estávamos em julho de 1971, resolvemos homenagear primeiro o poeta e
abolicionista Luiz Gama, que morreu em 24 de agosto, e mais adiante, em
outubro, homenageamos o nascimento do poeta e abolicionista José do Patrocínio.
Em novembro, fizemos a homenagem a Palmares. À época, o Grupo Palmares tinha
quatro pessoas e depois entraram mais duas mulheres. Por isso, consideramos que
o grupo fundador foi formado por seis pessoas, que fizeram esse trabalho em
1971, quando homenageamos Luiz Gama, Patrocínio e Zumbi e Palmares. O Grupo
Palmares realizou, então, no Clube Náutico Marcílio Dias, em Porto Alegre, o
primeiro ato evocativo a Zumbi e a Palmares. Foi o início de um trabalho que
teve continuidade ao longo dos anos.
Ainda
segundo Silveira, Inicialmente foi só o Rio Grande do Sul, mas graças à
divulgação, com o apoio da imprensa, a data foi se tornando conhecida. Em 1975
e 1976, São Paulo, com grupos de teatro de Campinas e da capital paulista, e o
Rio de Janeiro começaram a celebrar o 20 de novembro. De modo que foi se
implantando o 20 de novembro no país. Até que em 1978 surgiu a idéia de formar
o coletivo de organizações negras denominado MNUDR - Movimento Negro Unificado
contra a Discriminação Racial. Foi a tentativa de uma organização que reunia
algumas entidades, entre as quais algumas já celebravam o 20 de novembro. No
final de 1978, numa assembléia na Bahia, foi proposta a denominação de Dia
Nacional da Consciência Negra em 20 de novembro. Foi uma idéia feliz de Paulo
Roberto dos Santos, um militante do Rio de Janeiro. Então, aquilo fez com que o
20 de novembro se consolidasse [como data de celebração a Zumbi e a Palmares e
de afirmação da comunidade negra brasileira], mas foi um trabalho contínuo do
Grupo Palmares. Foi também o coroamento de um trabalho realizado no Rio Grande
do Sul pelo Grupo Palmares e que se tornou importante, porque foi adotado pelo
movimento negro em nível nacional.
Oliveira Silveira sempre
trabalhou para desmitificar a imagem do gaúcho, que como tipo
social é unicamente apresentado como branco. Na realidade, segundo Silveira, o
gaúcho é também negro, pela própria história do estado, que já contava com
escravos desde sua formação:
"Haviam escravos nos campos e na lida rural,
onde até hoje a presença negra é marcante. Para tanto, basta visitar as
estâncias do interior e constatar a presença de negros trabalhando como
peões."
Como
escritor, publicou até 2005 dez títulos individuais de poesia – Pêlo escuro,
Roteiro dos tantãs, Poema sobre Palmares, entre outros – e participou de
antologias e coletâneas no país e no exterior: Cadernos negros, do grupo
Quilombhoje, e A razão da chama, de Oswaldo de Camargo, em São Paulo-SP;
Quilombo de Palavras, organização de Jônatas Conceição e Lindinalva Barbosa, em
Salvador, na Bahia; Schwarze poesie/Poesia negra e Schwarze prosa/Prosa negra,
organizadas por Moema Parente Augel e editadas na Alemanha por Édition diá em
1988 e 1993, com tradução de Johannes Augel; ou revista Callaloo volume 18,
número 4, 1995, e volume 20, número 1 (estudo de Steven F. White), 1997,
Virgínia, Estados Unidos.
ENCONTREI MINHAS ORIGENS
Encontrei minhas origens
em velhos arquivos
....... livros
Encontrei
em malditos objetos
troncos e grilhetas
encontrei minhas origens
no leste
no mar em imundos
tumbeiros
encontrei
em doces palavras
...... cantos
em furiosos tambores
....... ritos
encontrei minhas origens
na cor de minha pele
nos lanhos de minha alma
em mim
em minha gente escura
em meus heróis altivos
encontrei
encontrei-as enfim
me encontrei
Na
imprensa, publicou artigos, reportagens, e alguns contos e crônicas. Participou
com artigos ou ensaios em obras coletivas,caso do ensaio Vinte de
novembro:história e conteúdo, no livro Educação e Ações Afirmativas, organizado
por Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva e Válter Roberto Silvério – Brasília:
Ministério da Educação/Inep, 2002.
Entre
algumas distinções recebidas: menção honrosa da União Brasileira de Escritores,
do Rio de Janeiro, pelo livro Banzo Saudade Negra em 1969; medalha cidade de
Porto Alegre, concedida pelo Executivo Municipal em 1988; medalha Mérito Cruz e
Sousa, da Comissão Estadual para Celebração do Centenário de Morte de Cruz e
Sousa – Florianópolis-SC, 1998; Troféu Zumbi, obra de Américo Souza, concedido
pela Associação Satélite-Prontidão, da comunidade negra de Porto Alegre, 1999;
Comenda Resistência Civil Escrava Anastácia, da Rua do Perdão, evento cultural
negro, Porto Alegre, 1999; e Tesouro Vivo Afro-brasileiro, homenagem do II
Congresso Brasileiro de Pesquisadores Negros, realizado entre 25 e 29 de agosto
de 2002 na Universidade Federal de São Carlos, UFSCAR, em São Carlos-SP – ato
em 27 de agosto.
Atuação
em outros grupos a contar de meados da década 1970: Razão Negra, Tição, Semba
Arte Negra, Associação Negra de Cultura. Integrante da Comissão Gaúcha de
Folclore. Conselheiro da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial da Presidência da República – SEPPIR/PR, integrando, nesse
órgão com status de ministério, o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade
Racial – CNPIR, órgão consultivo, período 2004-2006.
Fontes: