sábado, 31 de dezembro de 2011


Feliz 2012



Até agora foram mais de 10.000 visitas ao meu modesto blog, juro que não esperava tanto.

Amig@s antigos, nov@s amig@s tod@s prestigiando a minha comunicação.


Aqui sou livre, escrevo sobre o que quero e como quero. 

Especialmente, de quem gosto muito.

Não se preocupem muita gente que gosto ainda será aqui lembrada.

Agora só quero desejar que tenhamos um Feliz 2012. Um forte abraço.




Arruda

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

CESÁRIA ÉVORA
A Diva dos pés descalços


Era conhecida como “a diva dos pés descalços”.

O pai Justino da Cruz tocava cavaquinho, violão e violino. Quando jovem foi viver com sua avó, que havia sido educada por freiras, e assim acabou passando por uma experiência que a ensinou a desconsiderar a moralidade excessivamente severa.

Desde cedo, Cise, como era conhecida pelos amigos, começou a cantar e a fazer aos domingos na praça principal da sua cidade, acompanhada pelo seu irmão Lela, no saxofone. Mas a sua vida está intrinsecamente ligada ao bairro do Lombo, nas imediações do quartel do exército português, onde cantou com compositores como Gregório Gonçalves.


Aos 16 anos, Cesária começou a cantar em bares e hotéis e, com a ajuda de alguns músicos locais, ganhou maior notoriedade em Cabo Verde, sendo proclamada a "Rainha da Morna" pelos seus fãs.

Aos vinte anos foi convidada a trabalhar como cantora para o Congelo - companhia de pesca criada por capital local e português.

Em 1975, ano em que Cabo Verde conquistou a independência, Cesária, frustrada por questões pessoais e financeiras, aliados à dificuldade econômica e política do jovem país, deixou de cantar para sustentar sua família. Durante este período, que se prolongou por dez anos, Cesária teve de lutar contra o alcoolismo. Igualmente, Cesária chamou a esse período de tempo, os seus Dark Years.

Encorajada por Bana (cantor e empresário cabo-verdiano radicado em Portugal), Cesária Évora voltou a cantar, atuando em Portugal.

 Delicie-se com a maravilhosa interpretação do seu grande sucesso Sodade.


Em Cabo Verde um francês chamado José da Silva persuadiu-a a ir para Paris e lá acabou por gravar um novo álbum em 1988 "La diva aux pied nus" (a diva dos pés descalços) - que é como se apresenta nos palcos. Este álbum foi aclamado pela crítica, levando-a a iniciar a gravação do álbum "Miss Perfumado" em 1992. Desde então fixou residência na capital francesa. Cesária tornou-se uma estrela internacional aos 47 anos de idade.

Em 2004 conquistou um prémio Grammy de melhor álbum de world music contemporânea. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, distinguiu-a, em 2009, com a medalha da Legião de Honra entregue pela ministra da Cultura francesa Christine Albanel.

Aprecie a belíssima cantora na conhecida Besame Mucho em uma de suas últimas apresentações em julho de 2011.


Figura adorada entre os amantes da world music, a “Rainha da Morna” foi a grande responsável pela popularização do ritmo convergente que utiliza de instrumentos acústicos no acompanhamento de letras que remetem ao trovadorismo português. Curiosamente, a morna lembra mais estilos europeus e latino americanos do que africanos. Até por isto, é um estilo considerado nobre em Cabo Verde.

Foram 24 álbuns gravados por Évora, que ganhou inclusive um Grammy de world music em 2004, por seu disco “Voz D´Amor”. Ela veio algumas vezes ao Brasil, tendo sido a última delas em 2008, quando fez shows em São Paulo.

Em setembro de 2011, depois de cancelar um conjunto de concertos por se encontrar muito debilitada, a sua editora, Lusafrica, anunciou que a cantora pôs um ponto final na sua longa carreira.

Morreu no dia 17 de Dezembro de 2011, com 70 anos, por "insuficiência cardiorrespiratória aguda e tensão cardíaca elevada". As portas de sua casa estavam abertas até o último momento.

 Casa de Cesária Évora em Mindelo, sua cidade Natal onde faleceu dia 17 dez. 2011.











segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Mestre Valentim


Filho de um fidalgote português contratador de diamantes e de uma crioula natural do Brasil, o mulato Valentim da Fonseca e Silva, comumente conhecido como Mestre Valentim, destaca-se como um dos artistas mais originais em atuação no Rio de Janeiro entre o último quartel do século XVIII e o início do XIX. Seu estilo "híbrido", no qual concilia formas barrocas e rococós com certo sentido de contenção e sobriedade neoclássicas, sinaliza os processos de aculturação ocorridos nessa cidade desde sua proclamação a capital do vice-reino. Entre os principais nomes da arte colonial brasileira, como Aleijadinho (1730 - 1814) e Manoel da Costa Athaide (1762 – 1830), diferencia-se por ser o único a desenvolver, paralelamente aos trabalhos em igrejas, obras no campo da arte civil.

Em 1748 Valentim é levado a Portugal por seu pai, onde permanece até os 25 anos, retornando ao Brasil por volta de 1770. Naquele país aprende o ofício de escultor e entalhador. Não se sabe ao certo quais são seus mestres. Mas é preciso lembrar que durante o período de formação em Portugal o jovem presencia o desenvolvimento do estilo pombalino.

Para o plano de reconstrução de Lisboa, após seu incêndio em 1755, o Marquês de Pombal, então ministro das Finanças de Dom José, privilegia partido arquitetônico e decorativo mais sóbrio, excluindo a dispendiosa talha dourada. 

O modelo seguidoé a arte italiana, que, em fusão com tradições da arquitetura portuguesa, dá origem às igrejas pombalinas. O ideário iluminista despótico de Pombal logo chega à capital do Brasil pelo governo do vice-rei, Dom Luís de Vasconcelos e Sousa (1740 - 1807). Mas se em Portugal o gosto italiano toma a dianteira, no Rio de Janeiro as igrejas com fachadas pombalinas (como é o caso da Ordem Terceira do Carmo e de São Francisco de Paula) não abandonam a talha dourada da tradição luso-brasileira, abrindo caminho para o desenvolvimento de uma versão regional de grande delicadeza e requinte do estilo rococó, principalmente pelas mãos de Mestre Valentim.
O entalhador 


 O nome do artista aparece pela primeira vez como entalhador na obra de decoração da Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, em 1772, como discípulo de Luís da Fonseca Rosa. Apesar dos acréscimos ornamentais ecléticos do século XIX, ainda são identificáveis características do estilo de Mestre Valentim.

A talha dourada sobre fundo claro do retábulo-mor é amplamente decorada com motivos rococós como guirlandas, buquês de flores, festões de folhas, laços, cabecinhas de querubins, que permitem uma sensação óptica de movimento da superfície. Os anjos-meninos caracterizam-se, entre outras coisas, pelo rosto arredondado, feições levemente amulatadas, bochechas e olheiras marcadas, lábios com contornos definidos, pescoço grosso e curto, olhos saltados e caídos, cabelos abundantes e fios marcados, sinalizando o estilo de querubins de Valentim. Destaca-se no conjunto a inclusão de colunas salomônicas típicas do barroco joanino no lugar de colunas retas de acordo com um gosto rococó mais classicizante.

 
No entanto, é na Capela do Noviciado da Ordem, cuja decoração é executada entre 1773 e 1780, que Valentim apresenta todos os elementos de seu estilo.

Trata-se de um salão de planta retangular e teto abobadado revestido de talha dourada sobre fundo branco, formando uma unidade decorativa ímpar. O retábulo é constituído de banqueta-altar em forma de sarcófago, tendo ao fundo colunas retorcidas, num jogo de saliências que prepara o olhar para a visão da Nossa Senhora do Amor Divino. A decoração é repleta de rocalhas, guirlandas, festões florais, cabecinhas de anjos, que se repetem por todo o espaço e nas molduras preciosamente "bordadas" nos mesmos motivos. A composição da talha segue um sentido de simetria típico da Escola de Lisboa, mas, em geral, apresenta soluções de caráter mais intimista do que monumental. Isso revela certo gosto cortesão presente na talha religiosa carioca na segunda metade do século XVIII, embora tranqüilamente aliado a elementos grandiosos do barroco joanino.

Em sua última obra, a talha para a Capela do Noviciado da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Paula (na qual o artista teria trabalhado de 1801 a 1813), repetem-se as soluções de mais de 20 anos anteriores. Contudo, a talha um pouco contida, simplificada e simétrica, inclinando-se a certa compartimentação formal mais classicizante, aponta para a introdução de um espírito neoclássico.
O urbanista

Além da talha das igrejas, no âmbito da arte civil, o artista realiza tanto obras de embelezamento público quanto de saneamento e abastecimento de água, executando trabalho originalmente de engenheiros militares. Durante o vice-reinado de Luís de Vasconcelos e Sousa (1779-1790), Mestre Valentim foi designado a projetar obras de caráter urbanístico como chafarizes e o Passeio Público do Rio de Janeiro (primeiro jardim público da cidade, inaugurado em 1783) de todas as suas obras, a mais marcante, primeiro jardim de lazer do carioca.
 
Seu projeto reporta-se às idéias iluministas de bem-estar, civilidade, higienização, progresso, que deveriam transformar a capital brasileira numa cidade moderna. Tal projeto simboliza também uma natureza dominada pela razão e ação do homem. 

Mestre Valentim realiza tanto o risco em estilo barroco em forma de hexágono irregular cortado por aléias (sendo que a principal em linha reta tem como ponto de fuga a Baía de Guanabara) quanto fontes, elementos decorativos, portão e portal. No conjunto, diversas vertentes artísticas estão presentes, como o barroco, na estrutura dinâmica e cenográfica do jardim e nos elementos escultóricos do portal; o rococó, nas curvas e contracurvas e estilizações florais do portão em ferro fundido.

Realizou o Chafariz do Carmo, conhecido como Chafariz de Mestre Valentim ou Chafariz da Pirâmide (por sua forma ser de uma torre com uma pirâmide em cima), localiza-se no antigo Largo do Carmo, atual Praça XV. 

Chafariz da Pirâmide (ou do Mestre Valentim)
Construído na beira do cais em 1779, o chafariz do Mestre Valentim ou chafariz da pirâmide, foi erguido a mando do vice-rei, Dom Luís de Vasconcelos. Hoje, com o aterro, a região é diferente e o chafariz fica próximo ao Mergulhão da Praça XV em frente à estação das barcas. No alto da torre há um globo representado por paralelos e meridianos, que significavam o poder de Portugal.
 
Já o Chafariz das Saracuras foi realizado em 1795 para o Convento de Nossa Senhora da Conceição da Ajuda, doado pelo vice-rei Conde de Resende às freiras. O Convento da Ajuda localizava-se na atual Praça Marechal Floriano Peixoto (Cinelândia), mas tendo sido o convento demolido, o chafariz teve como destino a Praça General Osório, em Ipanema.



Valentim também realizou o Chafariz das Marrecas, cujo caminho que o ligava até o Passeio Público (atual Evaristo da Veiga) era chamado de “Belas Noites” por proporcionar aprazível experiência visual àqueles que andavam na região quando o sol já havia se escondido.



O escultor

Para completar sua obra Mestre Valentin também fez magníficas esculturas iniciando a fundição de grandes peças no Brasil.

Em seu conjunto, a obra representa o início de uma tradição de escultura pública não-religiosa e da urbanização como forma de embelezar a cidade.



Essas duas obras primas estão entre as primeira peças metálicas de grande porte fundidas no Brasil. Faziam parte do Chafariz das Marrecas, de Mestre Valentin, no centro da cidade, e foram salvas pelo antigo diretor do Jardim Botânico na época em que o chafariz foi destruído.

E levadas para o Memorial Mestre Valentin criado no Jardim Botânico do Rio de Janeiro em homenagem ao talentoso artista negro.


Amplamente reconhecido em sua época, Mestre Valentim ocupa na história da arte brasileira lugar de transição, no qual artista e técnico-artesão, passado e futuro, arte religiosa e laica, barroco e rococó, espírito clássico e nativista convivem em harmonia em sua obra.

Faleceu em 1o de março de 1813, sendo seu corpo sepultado na Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. Em 1997 foi inaugurado o Memorial Mestre Valentim para preservar suas peças originais, em exposição no Jardim Botânico do Rio de Janeiro.