quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Agostinho dos Santos
Pensei em homenagear a cidade de São Paulo que aniversaria nesta semana com a lembrança de um grande paulistano e não demorei muito a me lembrar de Agostinho dos Santos nascido e criado no Bixiga, o primeiro bairro negro de São Paulo.

Agostinho é um paulistano que representa com muita personalidade, legitimidade e qualidade a cidade e que enche de orgulho da comunidade negra. Uma das maiores vozes de todos dos tempos da música brasileira reconhecido no Brasil e no exterior, como tudo que é de qualidade musical nesta fase anda relegado ao ostracismo substituído por pancadões e breganejos de induvidável e inegável péssima qualidade.

Vamos homenagear SAMPA nos seus 458 anos saudando este Paulistano inesquecível no ano em que completaria 80 anos (25/4/1932).

Ainda muito jovem fui algumas tardes de sábado no Aristocrata Clube na rua Álvaro de Carvalho e pude curtí-lo e admirá-lo brincando e cantando antes do time sair para algum jogo de futebol. Não me lembro de tê-lo visto jogando, mas dizem, era um grande jogador também.

Agostinho era muito comprometido com as questões da comunidade negra e foi um dos fundadores do Aristocrata Clube.

Da direita para a esquerda Agostinho é o 5º de pé do famoso esquadrão do Aristocrata Clube. Jogou também no Éden da Liberdade, outro time de crioulos e no Sereno também famoso na várzea.( foto do site de Thiago dos Santos - link abaixo)

Mas como eu desde aquela época gostava muito de música, de preferência brasileira e de qualidade, sempre me interessei pelo fantástico cantor Agostinho dos Santos. Como cantava fácil mansa e docemente.
Ouça a maravilha que é A felicidade de Tom Jobim e Vinicius de Moraes
( prestem atenção nos arranjos da orquestra que acompanha Agostinho dos Santos.)



Iniciou sua carreira no início dos anos 1950, como crooner da orquestra de Osmar Milani, na capital paulista. Foi contratado pela Rádio América de São Paulo em 1951 e posteriormente se mudou para Rádio Nacional paulista tendo seguido para o Rio de Janeiro em 1955 para cantar com Ângela Maria, Sílvia Telles e a Orquestra Tabajara, na Rádio Mairynk Veiga. No mesmo ano, assinou contrato com a gravadora Polydor.

Em 1956, gravou seu primeiro sucesso: a valsa "Meu benzinho", de Hawe, Gussin e Caubi de Brito que o levou a receber o importante à época, troféu Roquette Pinto (no Brasil equivalente ao Grammy) seu primeiro Disco de Ouro.

A partir de então uma série de sucessos marcaram a sua carreira. Em 1957 gravou os sambas canção "Chove lá fora", de Tito Madi e "Maria dos meus pecados", de Jair Amorim e Valdemar de Abreu, "Maria Shangay" de l Ibrahim Sued, Alcyr Pires Vermelho e Mário Jardim. Ainda neste ano lançou pela Polydor o LP "Uma voz e seus sucessos e recebeu seu segundo Disco de Ouro.

O eternizado sucesso pela inigualável interpretação "Estrada do sol", de Tom Jobim e Dolores Duran e as belíssimas gravações de "Se todos fossem iguais a você" e "Por causa de você" de Tom Jobim e Vinicius de Moraes levaram-no ao terceiro Disco de Ouro.

Outra música em que se associa o intérprete ao mais simples acorde é "Balada triste", de Dalton Vogeler e Esdras Silva.Ouça e acompanhe a romântica letra. Novamente vale a pena prestar atenção na orquestração e entender porque é difícil ouvir o funk brasileiro e os new sertanejos.



Também em 1958, lançou o LP "Antônio Carlos Jobim e Fernando César na voz de Agostinho dos Santos", no qual interpretou, entre outras, "Eu não existo sem você", de Tom Jobim e Vinicius de Moraes e "Foi a noite", de Tom Jobim e Newton Mendonça e "Graças a Deus" e "Segredo", de Fernando César. Por causa desse elepê, recebeu o convite de Tom Jobim e Vinícius de Morais para ser o intérprete da trilha de ambos para o filme "Orfeu do carnaval" (No Carnaval Orfeu, condutor de bonde e sambista que morra no morro, se apaixona por Eurídice, uma jovem do interior que vem para o Rio de Janeiro fugindo de um estranho fantasiado de Morte. Mas o amor de Orfeu por Eurídice irá despertar o ciúme de sua ex-noiva, Mira. Lançado em 1959 o filme ganhou os maiores prêmios do cinema mundial a Palma de Ouro, o Oscar de melhor filme estrangeiro e o Globo de Ouro.), lhe rendeu dois grandes sucessos: "Manhã de carnaval", de Luiz. Bonfá e Vinicius de Moraes e "A felicidade" (que ouvimos acima), de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.
Vamos curtir agora Manhã de Carnaval na memorável apresentação do Carnegie Hall




Agostinho é um astro pouco conhecido e reconhecido nos dias de hoje. Vale a pena ler o blog do seu neto Thiago dos Santos – link abaixo – onde tem muitos detalhes da sua vida e carreira, todavia dois destaques, merecem aqui ser lembrados.

1.A sua consagação no show que apresentou a Bossa Nova ao mundo no Carnegie Hall de Nova Iorque onde ele naquela memorável noite foi o mais aplaudido e;

2 Uma entrevista que assisti anos atrás em que Milton Nascimento conta que foi graças a Agostinho dos Santos que surgiu no Festival Musica Popular Brasileira apresentando e cantando “Travessia” que Agostinho do Santos, a quem Milton apresentara a música para ser gravada, sem que o compositor soubesse a inscreveu e reconhecendo a qualidade da voz do compositor ao invés de se colocar como o seu intérprete, também, de forma modesta, algo que só os grandes sabem fazer, também colocou Milton Nascimento como o cantor da música o que foi decisivo para o seu surgimento e reconhecimento.

Milton Nascimento só tomou conhecimento da inscrição e classificação de suas cinco músicas para o festival quando começou a receber os cumprimentos de colegas e artistas que ficaram impressionados com seu desempenho na qualificação de tantas cançõees para um dos festivais mais difíceis da história.

 Merece registro o seu dueto com outro cantor maravilhoso o norte-americano Jonhy Mathis que em circunstâncias que devem ser agora reinvestigadas foi expulso do Brasil onde gozava de grande prestígio, na época da ditadura militar. A gravação não é de boa qualidade, porém, vale o registro histórico desse grande encontro onde interpretam de Agostinho dos Santos O amor está no ar.



Este foi Agostinho dos Santos tragicamente falecido na queda de um avião da VARIG em Orly na França em 12 de julho de 1973.

Fontes e links recomendados:
http://agostinhodosantos.blogspot.com/search/label/Biografia
http://www.adorocinema.com/filmes/orfeu-do-carnaval/
http://ipsislitteris.opsblog.org/2010/07/12/o-desconhecido-de-quem-agostinho-dos-santos/