segunda-feira, 11 de abril de 2011

A morte de Benê Silva

A Câmara Municipal de Embu homenageou o ator Benê Silva, pelo seu falecimento no dia 21 de fevereiro naquela cidade, em reconhecimento ao ator que idealizou um cineclube em Embu, onde fixou residência e passou os últimos momentos de vida. Durante a homenagem, um pequeno filme foi projetado, no plenário

O ator, dramaturgo e cineclubista mineiro Benê Silva morreu de complicações decorrentes de um câncer na garganta, aos 69 anos.

Benê Silva chegou a Embu há alguns, passando a integrar a vida cultural da cidade, ligando-se e militando no movimento por políticas públicas culturais.

Muito ativo, criou o Cineclube de Embu das Artes, levando a sétima arte a vários bairros da cidade. No ano passado, sua entidade foi uma das escolhidas por edital para abrigar um “Ponto de Cultura”, com apoio da prefeitura e verba do governo federal, em reconhecimento a seu trabalho.

Atuação marcante
Nascido em 16 de agosto de 1942 em Uberaba (MG), Benedito Vicente da Silva foi ator, dramaturgo e cineclubista, estudou artes cênicas na EAD (Escola de Arte Dramática de São Paulo), fez parte do TEN (Teatro Experimental do Negro) na década de 1950, no Rio de Janeiro, com a atriz Ruth de Souza.

Em 1969, o dramaturgo Plínio Marcos citou Benê como um ator negro que poderia ter sido escolhido para o papel de “Pai Tomás” em uma novela da Globo, "Cabana do Pai Tomás" (1969-1970). A emissora carioca preferiu, porém, escolher um ator branco (Sérgio Cardoso - 1925-1972) e "tingir o panaca de preto", nas palavras de Plínio, em vez de colocar um negro no papel principal.

Dizia Plínio Marcos, no jornal Última Hora (RJ): “O Sérgio Cardoso é o cara que vai se prestar ao triste papel de se pintar de preto pra fazer o ‘Tomás’... enquanto Samuel, Dalmo Ferreira, Benê Silva (formado pela Escola de Arte Dramática), Milton Gonçalves, Antônio Pitanga, Carlão Caxambu e tantos outros atores negros, de valor provado, ficam pegando as rebarbas das quebradas da vida”.

A partir dos anos 1970, Benê participou como ator em diversas produções cinematográficas, no Brasil e no exterior. No Brasil, por exemplo, participou do filme “A Filha do Padre” (1975), dirigido por Tony Vieira.

Foi um dos grandes destaques da primeira montagem brasileira da ópera-rock “Hair”, entre 1969 e 1971, de estrondoso sucesso, em cujo elenco estavam também Sônia Braga, Aracy Balabanian, Neuza Borges, Armando Bógus (1930-1993), Ariclê Perez (1943-2006), entre outros atores.

“Hair” se revelou um manifesto teatral e musical em repúdio à guerra, em geral, e à participação dos Estados Unidos na guerra do Vietnã (1959-1975), em específico.

Nos últimos anos, Benê radicou-se no Embu, criando o “Cineclube de Embu das Artes”, oficializado em 10 de setembro de 2006, agitando a cena cultural, participando de todas as iniciativas, debates, fóruns de discussões relativos à promoção cultural na cidade.

Na cerimônia de inauguração das atividades do Cine Clube Embu das Artes, foi exibido o filme “Vida de Artista”, produção e direção do cineasta João Batista de Andrade, então Secretário Estadual de Cultura, que fez questão de participar pessoalmente do evento, a convite de Benê.


Benê Silva abre uma lacuna no movimento cultural de Embu, deixando dezenas de amigos e admiradores de seu talento, espírito rebelde, de luta e de vida. Segundo seus amigos, quando perguntado sobre o que ele pensava sobre si mesmo e sua obra, dizia apenas: “Eu, embora seja negro, não sou um negro do movimento. Eu sou um negro em movimento”.

Benê Silva foi um dos atores da famosa novela Beto Rockfeler da TV Tupi e seu último trabalho de importância foi o filme “Os Desafinados" em 2008,

onde interpreta o personagem - Geraldo(no presente) - que é dividido com o cantor/ator Jair Oliveira(Geraldo no passado). Fazem parte do elenco, Rodrigo Santoro, Selton Mello, Jair Oliveira, Claudia Abreu, Alessandra Negrini, Angelo Paes Leme, André Moraes, Vanessa Gerbelli, Antonio Pedro Borges, Arthur Kohl, Genésio Barros e Ailton Graça.
Fonte (Texto: Márcio Amêndola / Foto-Montagem com fotos de autoria de Charles Brait)




Um comentário:

  1. Salve.

    Conheci o Benê. Ativo, amistoso, empreendedor. Um negro em movimento. Em mim deixava sempre a impressão de uma pessoa inquieta, querendo e buscando mais. Daqueles tipos que é mais fácil o vento parar do que ele acomodar-se. Pena não tê-lo encontrado ultimamente pelas ruas. Teria uma foto dele para o nosso acervo memorial. Agora, como diria Guimarães Rosa: "As pessoas não morrem, ficam encantadas". Na minha simplicidade, apenas digo: Cantou pra subir. Axé, Benê Silva, onde você estiver!

    Oubí Inaê Kibuko
    Fotógrafo/Editor de Cabeças Falantes e Quilombocine

    Cidade Tiradentes para o mundo...

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