segunda-feira, 23 de maio de 2011


JOÃO DO PULO
um salto de espantar o mundo.

 
O paulista João Carlos de Oliveira, que ficou conhecido no Brasil como "João do Pulo" nasceu em Pindamonhangaba, em 28 de maio de 1954, como a maioria dos negros brasileiros de família muito pobre, chegou a trabalhar como ajudante de frentista em posto de gasolina.

Ainda adolescente, em 1969, ingressou no exército, onde cumpriria uma carreira militar de 14 anos aonde chegou à patente de sargento.

João Carlos de Oliveira, o "João do Pulo", mostrou logo como juvenil o seu excelente talento ao quebrar o recorde mundial da categoria no salto triplo com 14,75 metros no Sul-americano de 1973.

Dois anos depois, nos Jogos Panamericanos da Cidade do México, aconteceria o momento de maior glória em sua carreira.

Primeiro ganhou a medalha ouro no salto em distância (8,19m) e na sua última tentativa no salto triplo, com um salto magnífico, de 17,89 metros, entrou para a história do esporte com um recorde mundial que levaria 10 anos para ser superado.

Na Olimpíada de Montreal-1976, João do Pulo conseguiu sua primeira medalha olímpica com um bronze. A marca de 16,90 metros não foi das suas melhores.

No Pan-americano de Porto Rico, João do Pulo se tornou bicampeão nas suas especialidades: no salto triplo (17,27m) e em distância (8,18m) reafirmando seu favoritismo para a próxima Olimpíada.

Na Olimpíada de Moscou, João do Pulo era um dos favoritos para a medalha de ouro e acabou roubado em seus resultados o que só viria a ser desmascarado 20 anos depois.

João Carlos já havia feito 11 tentativas e os fiscais de linha haviam invalidado oito, alegando que o brasileiro pisara na marca. Ao concluir um dos saltos, João do Pulo caiu numa caixa de areia e tinha a certeza íntima de que pulara mais de 18 metros.

A marca lhe daria a medalha de ouro nos Jogos de Moscou e também o novo recorde mundial.

Entretanto, de suas três tentativas válidas pelos critérios da arbitragem a de 17,22m foi suficiente, apenas para garantir a medalha de bronze. A farsa só foi desmontada em junho de 2000, quando o jornal australiano Sydney Morning Herald publicou uma reportagem esclarecendo a questão.

Os saltos anulados do brasileiro faziam parte de uma trama para dar o tetracampeonato olímpico ao soviético Viktor Saneyev e só não teve êxito total porque outro soviético, Jaak Udmae, saltou 17,35m e levou a medalha de ouro. Saneyev ficou com a prata.

João do Pulo chegou a chorar de decepção porque tinha certeza pessoal da vitória em Moscou.

O treinador estoniano Harry Seinberg chegou a confessar, em conversas com atletas e dirigentes, que as marcas de João do Pulo haviam sido alteradas para favorecer os atletas da casa. Mas, para decepção do brasileiro, que chegou a sonhar com uma reviravolta no caso, Seinberg não quis confirmar as declarações à Federação Internacional de Atletismo e ao Comitê Olímpico Internacional.

Ainda em 1980 um trágico acidente de carro interromperia a carreira de João do Pulo no auge da sua forma. Ele sofreu durante um ano no hospital e acabou perdendo sua perna direita que foi amputada.

 
João Carlos de Oliveira faleceu em 29 de maio de 1999, aos 45 anos de idade, em conseqüência de uma cirrose hepática e infecção generalizada.

Recordes pessoais:

Salto triplo: 17,89m em 14/10/1975, na Cidade do México, pelos Jogos Pan-Americanos. Recorde mundial até 16/06/1985, quando o americano Willie Banks saltou 18,29m, em Indianápolis, nos Estados Unidos.

Salto em distância: 8,36m, em 21/07/1979, no Meeting de Rieti (Itália). Recorde brasileiro e sul-americano até 1995, quando Douglas de Souza marcou 8,40m. 

Principais conquistas:

Salto Triplo:
1975 - Ouro nos Jogos Pan-Americanos da Cidade do México, com 17,89m.
1976 - Bronze na Olimpíada de Montreal, com 16,90m.
1977 - Ouro na Copa do Mundo de Dusseldorf (Alemanha), com 16,68m.
1979 - Ouro nos Jogos Pan-Americanos de Porto Rico, com 17,27m.
1980 - Bronze na Olimpíada de Moscou, com 17,22m.
1981 - Ouro na Copa do Mundo de Roma, com 17,37m. A marca foi recorde do Estádio Olímpico de Roma até 1987.

Salto em distância:
1975 - Ouro nos Jogos Pan-Americanos do México, com 8,16m.
1979 - Ouro nos Jogos Pan-Americanos de Porto Rico, com 8,18m.

Meu emocionado encontro com João do Pulo
 
No dia 13 de maio de 1999 eu tomava posse pela segunda vez como Presidente do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de São Paulo em cerimônia que marcava o primeiro ato público do governador Mário Covas depois da sua operação de câncer.

Estávamos todos muito contentes, mas no meu discurso eu pedi ao governador que o Governo do Estado de São Paulo desse atenção ao nosso grande atleta e herói, João Carlos de Oliveira – o João do Pulo – que segundo notícias da imprensa estava semi abandonado no Hospital Beneficência Portuguesa. O então deputado Nelson Salomé, também recentemente falecido, reiterou o nosso pedido e o Governador Mário Covas, determinou que imediatamente após a cerimônia o Secretário da Saúde me acompanhasse numa visita ao João e que daquele momento em diante, tudo o que o atleta precisasse para se recuperar deveria ser feito com todo o suporte financeiro e médico-hospitalar por conta do governo paulista.

Eu e o secretário da saúde, dr. Guedes, saímos do Palácio dos Bandeirantes e fomos diretos ao Beneficência Portuguesa onde nos reunimos com o diretor do hospital que já nos aguardava e da reunião fui ao encontro do João que já se encontrava na área de tratamento semi-intensivo.

Foi difícil vê-lo naquela situação. Sem a prótese da perna, extremamente abatido, longe de lembrar aquele jovem alegre, explodindo de energia, cercado de fãs e principalmente sem nenhuma atenção daqueles que o usaram na ditadura militar.

Não, não era o atleta de fama internacional. O João Carlos de Oliveira que encontrei era “só” mais um negro indigente que estaria abandonado à própria sorte e que já iniciara o seu último salto.

Meu consolo foi o de ajudar a dar-lhe alguma dignidade nos seus últimos dias.

2 comentários:

  1. Fui colega de trabalho do João do Pulo quando Deputado na Assembléia Legislativa.Realmente uma pessoa muito acessível que teve participação importante na Constituinte do Estado no capítulo que trata de Esporte e Organizações Sociais.

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  2. Agradeço o prestígio da sua visita e a nova informação sobre João do Pulo que acrescentarei na sua biografia.

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