TOBIAS
BARRETO
O negro
sergipano que falava alemão era feminista e abolicionista.
Tobias
Barreto de Meneses
(Vila de Campos do Rio Real, 7 de junho de 1839 — Sergipe, 26 de junho de 1889)
mestiço, pobre, nasceu na vila de Campos do Rio Real que passou a se chamar
Tobias Barreto em sua homenagem, província de Sergipe em 7 de junho de 1839, e
faleceu em Recife, Pernambuco em 26 de junho de 1889.
Bacharel
em direito pela Faculdade do Recife, foi jornalista, advogado e deputado
provincial. Destacou-se no campo da filosofia por sua atuação polêmica contra o
conformismo retórico. Questionou a concepção de física social do positivismo,
relacionou o conceito de cultura à constituição de normas para a compreensão do
social e do humano. Entendia a metafísica como teoria do conhecimento
divergindo profundamente do positivismo. Admitia a liberdade humana como
realidade não empírica. Defendeu o liberalismo na política, a emancipação
feminina e a libertação dos escravos. Foi uma figura central na Escola do
Recife, disseminando o pensamento filosófico alemão no Brasil que, naquela
época, sofria forte influência da cultura francesa. Certamente, foi um
importante pensador brasileiro no século XIX.
Filósofo,
poeta, crítico e importante jurista foi também fervoroso integrante da Escola
do Recife, um movimento filosófico de grande força calcado no monismo e evolucionismo
europeu, Tobias Barreto foi o fundador do condoreirismo
brasileiro.
O
Condoreirismo ou condorismo é uma parte de uma escola literária
da poesia brasileira, a terceira fase romântica, marcada pela temática social e
a defesa de idéias igualitárias.
Uma
poesia social, comprometidos com a causa abolicionista e republicana. Em geral
são poemas de tom grandiloqüente, próximos da oratória, cuja finalidade é
convencer o leitor-ouvinte e conquistá-lo para a causa defendida.
O
nome da corrente, condoreirismo, associa-se ao condor ave de vôo alto e
solitário, com capacidade de enxergar a grande distância, os poetas condoreiros
supunham serem eles também dotados dessa capacidade e, por isso, tinham o
compromisso, como poetas-gênios iluminados por Deus, de orientar os homens
comuns para os caminhos da justiça e da liberdade.
Sua
temática, contudo, além de questionar a estrutura escravista do regime
monárquico em vigência, opondo-lhe a República e a Abolição, procede a uma
reflexão filosófica profunda acerca da Divindade dogmática como instituição
mantenedora das desigualdades sociais, e conivente com a exploração do homem
pelo homem:
Se é Deus quem deixa o mundo
Sob o peso que o oprime,
Se ele consente esse crime,
Que se chama escravidão,
Para fazer homens livres,
Para arrancá-los do abismo,
Existe um patriotismo
Maior que a religião.
Sob o peso que o oprime,
Se ele consente esse crime,
Que se chama escravidão,
Para fazer homens livres,
Para arrancá-los do abismo,
Existe um patriotismo
Maior que a religião.
Encontramos
um eu-lírico céptico e questionador de todos os dogmas religiosos que não se
furta a apontar as falhas Divinas:
(...)Nesta hora a mocidade
Corrige o erro de Deus.
Postura
que se mostra muito mais eloqüente e incisiva em Ignorabimus :
Quanta ilusão!... O céu
mostra-se esquivo
E surdo ao brado do universo inteiro...
De dúvidas cruéis prisioneiro,
Tomba por terra o pensamento altivo.
Dizem que o Cristo, o filho do Deus vivo,
A quem chamam também Deus verdadeiro,
Veio o mundo remir do cativeiro,
E eu vejo o mundo ainda tão cativo!
Se os reis são sempre os reis, se o povo ignavo
Não deixou de provar o duro freio
Da tirania, e da miséria o travo,
Se é sempre o mesmo engodo e falso enleio,
Se o homem chora e continua escravo,
De que foi que Jesus salvar-nos veio?...
E surdo ao brado do universo inteiro...
De dúvidas cruéis prisioneiro,
Tomba por terra o pensamento altivo.
Dizem que o Cristo, o filho do Deus vivo,
A quem chamam também Deus verdadeiro,
Veio o mundo remir do cativeiro,
E eu vejo o mundo ainda tão cativo!
Se os reis são sempre os reis, se o povo ignavo
Não deixou de provar o duro freio
Da tirania, e da miséria o travo,
Se é sempre o mesmo engodo e falso enleio,
Se o homem chora e continua escravo,
De que foi que Jesus salvar-nos veio?...
Dedicou
vários anos a aprofundar-se no estudo do alemão, para poder ler no original
alguns dos ensaístas germânicos, à frente deles Ernest Haeckel e Ludwig
Büchner". Conta Hermes Lima, em sua magnífica biografia de Tobias, que ele
"para irritar o burguês, com uma nota mais ostensiva de superioridade,
abria freqüentemente seu luminoso leque de pavão: o germanismo". Foi em
alemão que Tobias redigiu o "Deutscher Kampfer" (O lutador alemão).
Mais tarde sairiam de sua pena os "Estudos Alemães".
A
obra de Tobias é de significativo valor, levando em conta que o professor
sergipano não chegou a conhecer a capital do Império.
Suas
"Obras Completas", editadas pelo Instituto Nacional do Livro, incluem
os seguintes títulos: "Ensaios e Estudos de Filosofia e Crítica",
1875. "Brasilien, wie es ist", 1876. "Ensaio de pré-história da
literatura alemã". "Filosofia e Crítica". "Estudos
Alemães", 1879. "Dias e Noites", 1881. "Polêmicas",
1901. "Discursos", 1887. "Menores e Loucos", 1884.
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