terça-feira, 3 de janeiro de 2012


André Rebouças
(1838 - 1898)

André Rebouças um homem a frente do seu tempo


André Pinto Rebouças, no túnel do tempo: negro, numa época em que vigorava a escravatura no Brasil, conseguiu se formar engenheiro e bacharel em ciências físicas e matemáticas pela Escola Militar. Nasceu em Cachoeiras, na Bahia, no dia 13 de janeiro de 1838.

Apesar do preconceito racial, seu pai, foi um homem importante e de prestígio na época. Autodidata, obteve o direito de advogar em todo o País; representou a Bahia na Câmara de Deputados por diversas legislaturas; foi secretário do Governo da Província de Sergipe; conselheiro do Império, tendo recebido o título de Cavaleiro da Imperial Ordem do Cruzeiro, em 1823.

Em fevereiro de 1846, sua família mudou-se da Bahia para o Rio de Janeiro, onde André freqüentou alguns colégios, sempre com um ótimo rendimento escolar, até ingressar, em 1854, na Escola Militar (depois chamada de Central e, por fim, Politécnica, no Largo de São Francisco), concluindo o curso preparatório, em 1857, e sendo promovido a 2º tenente do Corpo de Engenheiros.

Bacharelou-se em Ciências Físicas e Matemáticas, em abril de 1859, na Escola de Aplicação da Praia Vermelha, obtendo o grau de engenheiro militar, em dezembro de 1860.

De fevereiro de 1861 a novembro de 1862, Rebouças e seu irmão Antônio, também engenheiro, estiveram na Europa em viagem de estudos onde se especializaram na construção de portos e ferrovias.

Voltaram em 1862, quando foram contratados pelo governo para serviços de vistoria e melhoria de portos e fortificações estratégicas do litoral.

Rebouças foi convocado para a Guerra do Paraguai, na qualidade de engenheiro militar, nela permanecendo durante o período de maio de 1865 a julho de 1886, quando teve que retornar ao Rio de Janeiro, por motivos de saúde.

Dirigiu a Companhia das Docas da Alfândega do Rio de Janeiro, de 1866 a 1871, trabalhando na elaboração de projetos técnicos para novos portos, entre os quais o de Cabedelo, na Paraíba, do Maranhão, do Recife, de Salvador e, também, no abastecimento de água da cidade do Rio de Janeiro, durante a seca de 1870. Em 1871, assumiu a direção da Companhia Docas Pedro II.

Participou dos projetos da ferrovia Paraná - Mato Grosso (Princesa Isabel); da estrada de ferro da Paraíba (Conde d’Eu) e da Companhia Florestal Paranaense.

Na década seguinte, já professor da Escola Politécnica, participa ativamente da campanha abolicionista e funda, com outros de mesmo ideal, a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão e a Sociedade Abolicionista. Era o ideólogo dos abolicionistas.

Mesmo assim, André Rebouças sempre foi muito discreto quanto a considerações relativas a sua cor e ao preconceito que sofria. Poucas vezes falou sobre o assunto e quase não há referências ao problema no seu Diário, utilizado pelos pesquisadores como importante fonte de informação histórica.

Como abolicionista, contribuiu não apenas como intelectual para o ideário da abolição, mas também na efetiva atuação no movimento. Sua visão progressista e liberal o fez contrapor-se a todos os tipos de escravização, não somente a negra, lutando ainda contra a “reescravização do imigrante pelos donos da terra”. Foi um dos poucos abolicionistas que anteviram as implicações mais profundas da eliminação da mão-de-obra escrava. Para ele a “escravidão não está no nome e sim no fato de usufruir do trabalho de miseráveis sem pagar salário ou pagando apenas o estrito necessário para não morrer de fome[...] Aviltar e minimizar o salário é reescravizar”[...]

Defendia a emancipação e regeneração do escravo pela aquisição da propriedade da terra. Para ele a chave para a transformação da agricultura brasileira era a mudança dos sistemas de posse da terra.

Essas idéias estão expostas no seu livro mais conhecido, Agricultura nacional, estudos econômicos: propaganda abolicionista e democrática. Ele queria implantar no País o que chamou de Democracia Rural Brasileira. Sua afirmação: “Quem possui a terra possui o Homem”, resume sua postura em relação aos problemas sociais do século XIX, além de indicar a atualidade do seu pensamento.

André Rebouças tinha grande prestígio pessoal junto a Dom Pedro II. No período compreendido entre a Abolição da Escravatura, 13 de maio de 1888 e a Proclamação da República, 15 de novembro de 1889, o imperador atribuiu-lhe importantes encargos, tendo assim participado amplamente dos acontecimentos políticos do País.

Monarquista, amigo pessoal do imperador Pedro II, Rebouças não aceitou a implantação do regime republicano, decidindo seguir a família imperial em seu exílio. Embarcou na madrugada do dia 16 de novembro de 1889, junto com ela, no paquete (navio rápido e luxuoso, normalmente a vapor) Alagoas, com destino à Europa.

No período de 7 de dezembro de 1889 a 24 de abril de 1891, morou em Lisboa. Foi colaborador do jornal Gazeta de Portugal, onde com estilo crítico e mordaz escrevia contra o novo regime implantado no Brasil. Foi também correspondente do jornal de Londres The Times.

A pedido de Pedro II, que reconhecia estar vivendo seus últimos dias de vida, Rebouças viajou para Cannes, na França, para encontrá-lo, ficando na sua companhia do dia 28 de abril a 2 de maio de 1891.

Mesmo depois da morte de Dom Pedro II, Rebouças nunca retornou a Portugal e não ficou claro o porquê da sua decisão. Ele permaneceu na França até janeiro de 1892, poucos dias após a morte do ex-imperador do Brasil, no dia 5 de dezembro de 1891, indo trabalhar em Luanda, capital de Angola, na África, onde só ficou por 15 meses. Em 1893, resolveu fixar-se em Funchal, capital da Ilha da Madeira.

Abatido pelo exílio e por um estado de saúde precário, morreu no dia 9 de maio de 1898. Seu corpo foi resgatado, na base de um penhasco de cerca de60 metros de altura, próximo ao hotel em que vivia.

No dia 18 de junho seus restos mortais vindos da Ilha da Madeira, foram trasladados solenemente, por mar, das Docas Nacionais até a Praia de Botafogo, e dali a pé, até o Cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro, onde foram sepultados.

Em 1967, o governador do Estado da Guanabara (hoje cidade do Rio de Janeiro), Negrão de Lima, batizou com os nomes dos irmãos André e Antônio Rebouças os maiores túneis da cidade. (2.840 metros nas duas galerias, em cada sentido).


O LEGADO DE ANDRÉ REBOUÇAS

1 - Sua insistência na importância dos portos e estradas ressurgiu, em escala amplificada, no Brasil moderno, com os chamados “corredores de exportação”, implementado nos anos 1980 com a finalidade de embarque de mercadorias, como ele previra.
2- Saneamento da Baixada Fluminense. Sua proposta de transformá-la numa Nova Amsterdam não se concretizou. Mas surgiram inúmeras cidades sem os requisitos sanitários e urbanísticos que ele recomendou.
3- Propôs a criação de estradas inter-oceânicas que se concretizaram no século seguinte.
4 - Recomendou a criação de parques florestais pelo país. Hoje, há inúmeros parques. Sua recomendação fora baseada por uma obra que lera sobre “Yellow-Show Park”, nos Estados Unidos.
5 - Se preocupou com o saneamento das baías de Guanabara e Sepetiba, no Rio de Janeiro, que hoje causam problemas ambientais.
6 - Propôs a criação de um sistema habitacional humanizado e amplo para as populações de baixa renda.
7 - Defendeu a reforma agrária – um de seus precursores no Brasil –- e se bateu contra o latifúndio.
8 - Criou a proposta da higiene pública para tornar a cidade mais habitável, limpa e confortável para seus habitantes.
9 - Foi o primeiro engenheiro brasileiro a realizar ensaios para suas obras com cimento, impermeabilizantes para estacas e com madeiras para o mesmo fim.
10 - Teve ampla visão do emprego da madeira para o futuro das obras no país.
11 - Incentivou a navegação no interior aumentando, assim, as possibilidades marítimas do Brasil.
13 - Copiando o que os ingleses fizeram na Índia, no combate às secas, propôs a criação de uma malha ferroviária densa no nordeste, para facilitar o êxodo e a remessa de recursos aos flagelados. Essa proposta mais tarde se concretizou.
Foi precursor e solidarizou-se com as seguintes questões:
- A cremação de cadáveres
- A conservação de áreas florestais
- O imposto territorial como meio de nacionalização do solo
- Construção de restaurantes para operários de obras
- A difusão de cooperativas
- A descentralização governamental
- A liberdade de comércio e abolição de direitos protecionistas
- Investimentos públicos e privados no sertão
- A arbitragem nos conflitos internacionais
- Foi introdutor de diversas técnicas na engenharia militar, florestal, portos, navegação, ferrovia e hidrovias
- Criou inúmeras cadeiras de engenharia na antiga Escola Politécnica do Largo de São Francisco no Rio de Janeiro.

Fontes:






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