sábado, 20 de agosto de 2011

Billie Holiday

Billie Holliday foi a melhor cantora de jazz de sua geração e, na opinião de seus admiradores e de muitos críticos, a melhor de todos os tempos.

Eleanora Holiday nasceu no gueto negro de Baltimore. Sua certidão de nascimento nunca foi encontrada, portanto a data aceita de seu nascimento era a que ela costumada dizer: 7 de abril de 1915. Sua mãe, Sadie Fagan, a chamava Nora. Era o pai, o guitarrista Clarence Holiday, quem lhe chamava de “Bill”, por achar que ela se comportava como um garoto. Seus pais eram meros adolescentes quando ela nasceu: Clarence tinha 15 anos e Sadie, 13.

Billie sofreu tudo o que se poderia esperar na vida de uma menina americana negra e pobre. Viveu com a mãe separada do pai, foi violentada por um vizinho aos dez anos e castigada por isso, sendo internada em uma instituição com “métodos correcionais” pré-medievais. Aos doze, trabalha lavando assoalhos e prestando serviços a dona de um prostíbulo, onde ouve pela primeira vez discos de Louis Armstrong e Bessie Smith. Aos 14, já em New York, indignada com a posição de criada de sua mãe e com o racismo, cai na prostituição e enfrenta quatro meses de cadeia “por não querer satisfazer um chefe da máfia negra do Harlem”.

Em 1930, ameaçadas de despejo por deverem 45 dólares ao senhorio, Billie sai à rua “disposta a roubar ou matar se preciso”. Aí começa a lenda de Billie. Percorrendo os bares do Harlem em busca de algum dinheiro, entra no Pod’s and Jerry’s oferecendo-se como dançarina. Um desastre. O pianista, com pena, pergunta se ela sabe cantar e Billie pede que que ele toque Trav’lin All Alone. Em poucos instantes todos estão com os olhos grudados nela, que sai do bar com cinquenta e sete dólares e um emprego com salário fixo. Três anos depois, tendo cantado em vários lugares, é assistida pelo produtor John Hammond. Em 27 de novembro de 1933 entra em estúdio pelas mãos de Benny Goodman.

Billie nunca teve educação formal de música e seu aprendizado se deu ouvindo Bessie Smith e Louis Armstrong com quem teve a honra de cantar tempos depois. 

Confira a a monumental interpretação que fazem em de The Blue Are Brewin.


Em 1935 já aparece cantando com a orquestra de Duke Ellington no filme Symphony in Black e inicia uma frutífera parceria com o pianista Teddy Wilson, gravando com ele mais de oitenta músicas em seis anos. No entanto, suas experiências com as Big Bands, entre 1936 e 1938 são amargas. Com Count Basie passa por vexames como pintar o rosto com graxa de sapato porque um empresário achou que sua pele era muito clara. Com a orquestra branca de Artie Shaw, é muito bem tratada pelos músicos mas sente o racismo nas turnês pelo Sul. Cansada de tais humilhações, volta para New York e, mais uma vez pelas mãos de Hammond, consegue um bom contrato no Café Society, de Barney Josephson. É lá que sua fama começa a se firmar.

Em 25 de janeiro de 1937, Billie e o saxofonista Lester Young entram juntos pela primeira vez em um estúdio. Alguém escreveria que naquele dia “surgiu uma nova forma de poesia amorosa entre a voz humana e o instrumento musical”. Em quatro anos gravaram cerca de 50 canções, verdadeiras jóias, repletas de swing, bom gosto, criatividade e cumplicidade que se estendia ao trompetista Buck Clayton. Lester a chamava de Lady Day e ela o apelidou de Prez (de “presidente dos sax-tenores”).

Ouça a singular interpretação de Billie de um dos clássicos do jazz Geogia on My Mind
A partir de 1940, apesar do sucesso, Billie Holiday, sucumbiu ao álcool e às drogas, passando por momentos de depressão, o que se refletia em sua voz.

Pouco antes de sua morte por overdose de drogas, Billie Holiday publicou sua autobiografia em 1956, Lady Sings the Blues, a partir da qual foi feito o filme Ocaso de uma estrela, em 1972, tendo Diana Ross no papel principal.

Billie Holiday só ganhou a devida fama e respeito após sua morte, que aconteceu em 17 de julho de 1959. Para conhecer sua vida não é preciso ler nenhuma biografia, mas apenas ouvir sua voz interpretando as centenas de preciosidades que deixou gravada.

A militante da questão racial.

Não são encontrados registros de envolvimento político de Billie na luta contra o racismo. Só o fato de que foi muitas vezes vitima do racismo o que a fez voltar para New York onde o peso da discriminação era menor.

Merece registro todavia a sua canção Strange Fruit onde de maneira bastante amarga faz menção ao extermínio de negros no sul dos Estados Unidos.

Assista e ouça a sua triste e emocionada interpretação desta dura canção. 
A letra em inglês e traduzida para o português se encontra abaixo.

























Strange Fruit
Fruta Estranha
Southern trees bear a strange fruit
Blood on the leaves and blood at the root
Black bodies swinging in the southern breeze
Strange fruit hanging from the poplar trees

Pastoral scene of the gallant south
The bulging eyes and the twisted mouth
Scent of magnolias, sweet and fresh
Then the sudden smell of burning flesh

Here is fruit for the crows to pluck
For the rain to gather, for the wind to suck
For the sun to rot, for the trees to drop
Here is a strange and bitter crop
Árvores do sul produzem uma fruta estranha,
Sangue nas folhas e sangue nas raízes,
Corpos negros balançando na brisa do sul,
Fruta estranha penduradas nos álamos.

Pastoril cena do valente sul,
Os olhos inchados e a boca torcida,
Perfume de magnólias, doce e fresca,
Depois o repentino cheiro de carne queimada.

Aqui está a fruta para os corvos arrancarem,
Para a chuva recolher, para o vento sugar,
Para o sol apodrecer, para as árvores deixarem cair,
Aqui está a estranha e amarga colheita.



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