JOAQUIM BARBOSA
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/files/2014/01/Joaquim-Barbosa-gravata-amarela.jpg
Altivez e Independência.
Foi
com grande satisfação e orgulho que recebi a notícia de que o Ministro Joaquim
Barbosa, Presidente do Supremo Tribunal Federal decidiu aposentar-se ao final
do mês de junho restando ainda alguns meses para o final regulamentar da sua
gestão à frente de um dos três poderes da Nação.
Os
oportunistas de sempre não perdem a chance de tentar, mais uma vez,
desqualificá-lo e três razões se sobressaem para tal aventura:
(1)
é negro (retinto perto dos outros dois ministros negros que antes dele também chegaram
a Alta Corte do Brasil Pedro Lessa e Hermenegildo Rodrigues de Barros);
(2)
possui cultura e formação superior muito maior que qualquer um dos seus
críticos, posso apostar e;
(3)
fez um trabalho brilhante como relator do mais difícil julgamento da história
da Suprema Corte mostrando que não tinha subalternidade aos detentores do poder
que o haviam indicado – é isso mesmo só o indicaram e o fizeram em razão do seu
brilhantismo profissional e formação acadêmica impecável – todavia, não tinham
idéia da sua independência, dignidade e austeridade.
Muitos
são os revoltados com o resultado do julgamento do Mensalão (Ação Penal 470) e propositadamente
distorcem os fatos.
O
Ministro Joaquim Barbosa foi o relator e apresentou os fatos e o direito a ser
aplicado ao caso. Seus colegas é que de forma colegiada com ampla e larga
votação CONDENARAM os criminosos que estavam envolvidos no processo como réus
em denúncia feita pelo Ministério Público (Promotor) que era o titular da ação.
Não
foi o Ministro Joaquim Barbosa o investigador e o acusador dos crimes. Ele foi
o relator do processo que em plenário poderia ter seu relatório derrotado, mas
não, o que apresentou levou ao entendimento da maioria dos outros ministros do
STF de que estavam diante de crimes e os seus autores, todos conhecidos e
identificados deveriam ser condenados.
É
assim que funciona um tribunal em qualquer país democrático do mundo.
A
maior revolta dos críticos (na verdade censores) de Joaquim Barbosa é a
condenação e a prisão de José Dirceu sob o ingênuo argumento de que ele não
mentiu e não é culpado. Parece o famoso comercial de tevê como engraçado
jargão: Sabe de nada inocente.
Não
se pode admitir tanta ingenuidade.
Ainda
que o Zé Dirceu tivesse tido outra trajetória em algumas atitudes na sua vida, já
não seria suficiente para torná-lo automaticamente numa pessoa acima de
qualquer suspeita. Todavia, como cometeu outros graves deslizes éticos é
incompreensível tanta paixão, não em sua defesa, mas nos virulentos ataques ao
Ministro Joaquim Barbosa pelo julgamento.
Vamos
deixar claro que não estou falando do ativista político estudantil de grande
importância no enfrentamento da ditadura militar e que continuaria por essas ações,
a merecer todo o nosso respeito e homenagens, mas, errou, foi julgado, condenado
e está cumprindo a pena.
Causa-me
estranhamento também as duras críticas feitas ao Ministro Joaquim Barbosa pela
contundência das penas e a forma da sua execução aos condenados do mensalão.
Não
vejo essas críticas, salvo honrosas e raríssimas exceções, em relação aos
jovens negros que abarrotam as masmorras brasileiras que recebem penas
altíssimas, duríssimas, por pequenos delitos e muitas vezes, por crimes que
sequer cometeram.
A
nossa juventude que em grande maioria vive em situação de vulnerabilidade é
morta principalmente pelas polícias militares ou são, em grande número de vezes,
injustamente presos, julgados com todo o rigor da lei.
Os
tribunais, a quem cabe interpretar e aplicar as leis, em relação a nós negros
sempre o fazem com exagerado rigor e o encarceramento muitas vezes, se dá sem
nenhum tipo de benefício de progressão contrariando o que estabelece a
legislação.
Quem
como eu vive a experiência de advogar na defesa de jovens negros, sabe ao que
estou me referindo e o resultado é visível com milhares de negros (as) nas
prisões, sobretudo jovens.
Mas
para os brancos poderosos do mensalão a rudeza da prisão é insuportável, ainda
mais patrocinada por um homem negro.
O
que fizeram então?
Aproveitando
a obrigatória mudança saída por aposentadoria compulsória de outros ministros
do STF, alteraram a composição de forças lá colocando gente mais cordata,
afinada com o que pensa o Planalto.
O
Ministro Joaquim Barbosa seria de ora em diante um Judas a ser malhado
publicamente a cada oportunidade. A revisão de parte do julgamento do mensalão
recentemente ocorrida foi a primeira mostra ao que vieram os novos ministros
que se juntaram aos que eram minoritários nessa linha de atuação.
O
Ministro Joaquim Barbosa, mais uma vez demonstrando coerência, altivez e
independência retira-se do Supremo Tribunal Federal, como seu presidente, para
colocar em NEGRITO o seu nome na
história.